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2 DÉCADAS DEPOIS ELE E ELA SE REENCONTRARAM!

''Para mim só houve um Dia dos Namorados digno desse nome. Quarta série. Uma garota chamada Lori . Nenhum Dia dos Namorados sequer se aproximou daquele. A imagem dela nunca saiu da minha cabeça e, perto do Último Dia dos Namorados, tive a idéia fixa de encontrá-la. Ano de 1972. Sul da Califórnia. Há dois anos estou apaixonado por Lori, criatura angelical que mora do outro lado da rua. Nossa volta diária para casa, desde a parada do ônibus, é o ponto alto de minha vida. A situação é complicada. Primeiro, Ted, irmão mais velho de Lori, é meu melhor amigo. Segundo, chega a ser grotesco o modo como fico encabulado na presença dela. Com meus amigos, sou espirituoso e brilhante. Com Lori, eu me comunico quase por meio de grunhidos. Embora sempre seja simpática comigo, o coração de Lori não parece bater no mesmo ritmo desesperado que o meu. Tudo chega ao auge no Dia dos Namorados. Na sala de aula, os garotos trocam cartões comprados nas lojas, e eu recebo uns  genéricos  ''Quero você'' de Lori e dos outros 26 alunos. Mas nesse dia, na volta para casa, Lori diz: - Tenho algo pra você. Fico mudo. Ela tira um enorme envelope vermelho da sacola, coloca-o na minha mão e sai correndo. No quarto, abro o envelope com cuidado e encontro o cartão mais lindo, feito à mão, de cartolina vermelha, com centro branco enfeitado, estrelas reluzentes e todo o tipo de corações. Dentro, Lori havia escrito ''Eu amo você'' em cola branca e em letras perfeitas recobertas com purpurina. Após ler o cartão umas 30 ou 40 vezes, eu o escondo debaixo de minhas meias.
Talvez Lori e eu estivéssemos casados hoje- se uma circunstância não nos tivesse atrapalhado: Mike, meu irmão mais velho. Remexendo na cômoda, naquela noite, ele encontrou o envelope. Ora, Mike estava na sexta série, e tinha a crueldade que traz má reputação aos irmãos mais velhos. Ele mostrou o cartão de Lori a Ted e a outros garotos da vizinnhança. Ficamos muito constrangidos. Isso esmagou qualquer progresso nesse amor precoce. Depois meu pai nos comunicou que íamos nos mudar- imaginem- para o Alasca. Parecia lugar um tanto rigoroso para me exilar do sorriso luminoso de Lori. Sugeri ficar e morar num orfanato. Mas no final das contas, não havia o que fazer.  No colégio, a professora Lockhart organizou a festa de despedida. Só consegui ficar olhando fixamente para Lori- e ela, pela primeira vez desde o Dia dos Namorados, ficava-me com seus olhos grandes e cristalinos. No ônibus, Lori sentou-se ao meu lado e ficamos de mãos dados durante todo o percurso. Junto á porta da minha casa, procurei palavras que exprimissem a terrível pressão no meu peito. -Bem-consegui dizer, afinal-, Adeus.Lori deu-me um beijo no rosto e atravessou a rua correndo. Assim, num instante,ela se foi.  ANOS MAIS TARDE UM AMIGO ADVOGADO ME DEU A IDÉIA DE PROCURAR ELA, PARA QUE EU FOSSE ...  a uma firma que encontra pessoas difíceis de se encontrar, Todo esse tempo a procurei de tantas formas...UMA HORA DEPOIS DO MEU TELEFONEMA, HAVIAM DESCOBERTO LORI! Até então, minha busca se baseara numa fantasia extravagante, mas aquele endereço e informações eram incrívelmente REAIS! ''SERÁ QUE DESEJO MESMO FAZER ISSO? VALERÁ A PENA MEXER NUMA DE MINHAS RECORDAÇÕES MAIS SAGRADAS E CORRER O RISCO DA DESILUSÃO?? Mas seria estupidez chegar tão perto de Lori e ficar á beira do precipício, numa dúvida eterna. ''Querida Lori'', começava minha carta. '' Espero que não se tenha esquecido de mim.'' Passei a tarde inteira escrevendo essa carta. Coloquei-a no correio para entrega urgente. O telefone tocou na noite seguinte. -Claro que me lembro!- começou a voz. -Lori? -Você tinha um cachorro chamado Walter. -É. -Você usava um casaco para ir ao colégio todos os dias, mesmo quando estava quente demais. -É. -Um dia você bateu num garoto que caçoou de mim quando tive catapora. Conversamos durante uma hora e rimos lembrando como nossos irmãos nos atormentavam. Ela falou do trabalho, do marido e dos dois filhos. Contei-lhe os fatos importantes de minha vida e ela pareceu se interessar. Concordou em se encontroar comigo num restaurante na semana seguinte. -O nome do senhor é Thompson? pergunta o garçom no restaurante. Digo que sim. -Um recado de Lori. Lamenta, mas chegará uma hora atrasada. O atraso de Lori me trouxe certo alívio. Meu estômago havia ficado embrulhado o dia todo e parecia bom ter um tempo para me recompor. Lá fora, dou a volta no quarteirão, inventando cem explicações para a demora de Lori. Ela teve de trabalhar até mais tarde. Não conseguiu encontrar uma babá. Brigou com o marido, um louco furioso que jurou me destruir. De repente, tenho grande inspiração: não preciso levar isso até o fim para satisfazer minha curiosidade sobre o que poderia ter acontecido. EU SEMPRE SOUBE TUDO QUE PRECISAVA SABER SOBRE LORI. Ninguém quer descobrir que duas décadas estragaram qualquer relação que poderia ter existido, em vez de torná-la mais heróica. Talvez a vida seja assim, mas não os casos de amor da quarta-série. Perto do restaurante, encontro uma papelaria. Compro papel,envelope,cola branca e purpurina. Sentado num degrau escrevo: ''LORI, TENHO CERTEZA DE QUE NOS TERÍAMOS DIVERTIDO MUITO ESTA NOITE, MAS O QUE EU MESMO QUERIA DIZER ERA OBRIGADO POR AQUELE CARTÃO DE  DIA DOS NAMORADOS QUE VOCÊ ME DEU HÁ MUITO TEMPO. PODE PARECER UM GESTO INSIGNIFICANTE PARA VOCÊ, PORÉM SÃO ESSAS DÁDIVAS QUE RESUMEM TUDO DE BOM QUE HÁ NO MUNDO. NUNCA ESQUECEREI POR ISSO. SEU, CHUCK. Escrevo o nome de Lori com a cola no grande envelope vermelho, espalho purpurina dourada nele e fico esperando secar. De volta ao restaurante, lacro o envelope com o beijo mais inocente que consigo dar, coloco o cartão sobre a mesa e saio calmamente ***