A briga pela fortuna Maksoud
Acusações de maus- tratos com registros policiais, uso abusivo de medicamentos e tentativas de interdição marcam a incrível disputa pela herança do fundador de um dos hotéis mais emblemáticos da capital paulista
Fabíola Perez (fabiola.perez@istoe.com.br)
O empresário
Henry Maksoud gostava de ter controle absoluto sobre a vida pessoal e os
negócios. Não à toa, ergueu um dos mais imponentes hotéis do País, o
Maksoud Plaza, e se tornou um empreendedor de sucesso entre os membros
da elite paulistana. Com o passar dos anos, no entanto, a administração
familiar começou a revelar problemas e os cifrões de seu patrimônio
diminuíram. A manutenção da harmonia familiar também fugiu de seu
controle quando, em 1999, o primogênito, Roberto Félix, abandonou o
cargo de diretor do hotel, o mais glamouroso de São Paulo na década de
1980. Quinze anos depois, distante dos filhos e diagnosticado com câncer
de pulmão, Henry Maksoud dividia suas horas entre um leito do hospital
Albert Einsten, em São Paulo, e a cama de seu quarto em uma mansão de 17
mil metros quadrados na Chácara Flora, bairro nobre na zona sul da
cidade, onde vivia com a segunda mulher, Georgina Célia Bizerra. Com a
morte do empresário aos 85 anos, na quinta-feira 17 de abril de 2014, deu-se início a um
processo de disputa pela herança, estimada em R$ 500 milhões, acusações
e conflitos que racharam de vez a família. De um lado, ficaram a
mulher, Georgina, e o neto Henry Maksoud; de outro, os filhos Roberto,
pai de Henry, e Cláudio.
MEMÓRIA
O empresário Henry Maksoud e sua criação,
o hotel Maksoud Plaza, um ícone da capital paulista
A briga teria começado muito antes da morte
do patriarca. Em janeiro deste ano, os filhos pediram a interdição
judicial do pai, sob o argumento de que o empresário apresentava
sintomas de demência e não teria condições de administrar seus bens. De
acordo com Roberto, as primeiras desconfianças surgiram em janeiro de
2013, quando ele ligou para o pai, de Orlando, nos Estados Unidos, onde
vivia. “Georgina não queria me deixar falar com ele, mas insisti”, diz.
“Quando conversamos, notei que ele estava esquecendo certas coisas”,
diz. Do outro lado, Georgina e Henry negam que Maksoud tenha ficado
senil por causa da idade. “Meu marido faleceu em razão de um grave
câncer descoberto meses antes. Evidente que a sua saúde física não era a
melhor. Mas a sua saúde mental permaneceu intacta até o dia de seu
falecimento”, afirma a viúva. Segundo Márcio Casado, advogado de
Georgina, do neto e do próprio empresário, o requerimento de interdição
foi rejeitado pelo Ministério Público por falta de provas. “Um homem
como Maksoud não poderia ter sintomas de demência, ele tinha todas as
condições de tomar as próprias decisões”, diz.
BRIGA
Claudio Maksoud tentou interditar o pai no início do ano,
com o irmão Roberto, mas não conseguiu
Marcio Casado alega que os filhos estavam
distantes do pai. Já o neto tinha uma proximidade natural, uma vez que
trabalhava com o avô na direção do hotel. Roberto justifica que estava
distante de Henry Maksoud porque, além de morar em outro país, era
impedido de falar com ele. Com a morte do empresário, começa o processo
da abertura do inventário. O presidente da Comissão de Direito de
Família e Sucessões da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-SP), Nelson
Sussumu Shikicima, explica que, em casos de sucessão envolvendo grandes
empresas, espera-se que o dono do patrimônio deixe um planejamento
sucessório, que pode vir no formato de um testamento. “É comum que a
pessoa se preocupe em documentar a quem será destinada a empresa e o
restante dos bens”, diz. Shikicima observa ainda que os filhos são os
herdeiros necessários e que a única maneira de não terem prioridade
seria diante de um testamento. Casado não confirmou a existência ou não
do documento. “Um testamento poderia modificar o rumo dos fatos, caso
comprovasse a preferência de Maksoud pelo neto ou pela esposa, em vez
dos filhos”, diz Shikicima.
Com a abertura do inventário, o documento
poderá ser apresentado e também impugnado pelos familiares. Para o
advogado de Roberto, Luiz Roselli Neto, sócio do escritório Novaes e
Roselli Advogados, é preciso comprovar sua legitimidade. “A mulher
cerceava o direito de os filhos visitarem o pai e há denúncias de
funcionários que testemunharam maus-tratos contra Maksoud na casa em que
viviam”, diz. Os mesmos empregados afirmam que Georgina ministrava
altas doses de tranquilizantes no marido. “Como uma pessoa enclausurada
em um quarto, sob efeito de remédios, poderia assinar um documento
confiável?”, questiona. Roberto rebate as afirmações de que estaria
disputando a herança do pai. “Se estivesse brigando por dinheiro, não
teria deixado de trabalhar no hotel por vontade própria há 15 anos”,
diz. A denúncia de agressão contra Maksoud foi registrada no Ministério
Público de São Paulo por uma antiga funcionária da casa da Chácara Flora
e ouvida pelo promotor Delton Pastore em março deste ano. Georgina
afirma que, uma semana antes do falecimento do marido, cinco viaturas da
polícia militar e duas viaturas de resgate foram à sua casa. “Eles
falaram que teria havido uma denúncia anônima de maus-tratos a um
idoso”, diz. “Eles viram meu marido tomando café, cercado de enfermeiros
e funcionários da casa. Os policiais pediram desculpas pelo incômodo e
foram embora.” Após a morte do empresário, o caso foi arquivado. A revista IstoÉ
conversou por telefone com a ex-funcionária que registrou a queixa e ela
confirmou as denúncias.
O próximo passo para o processo que corre
em segredo de Justiça é a escolha da pessoa responsável pelo patrimônio
de Henry Maksoud. “Normalmente, o inventariante é o cônjuge”, diz
Shikicima, da OAB-SP. “Mas se houver testamento, a pessoa pode estar
indicada no documento.” O advogado do empresário, Casado, afirma que a
intenção de Maksoud era dar continuidade às empresas que fundou. “Ele
tinha uma vontade e alguns herdeiros não se conformam com isso.” O neto
Henry Maksoud diz que a intenção do avô sempre foi dar andamento a seus
empreendimentos. “As pessoas envolvidas na sua sucessão deverão ter
respeito por sua vontade declarada em vida”, afirma o rapaz, que diz ter
um relacionamento cordial com o pai, Roberto, apesar de disputar a
herança com ele. “Temos perfis muito diferentes profissionalmente.”
RACHA
Acima, a viúva Georgina e o neto Henry, que ficaram ao
lado de Maksoud até sua morte. Abaixo o filho Roberto, pai de
Henry, que acusa a madrasta de dopar e maltratar o pai, para
ter controle sobre sua fortuna, estimada em R$ 500 milhões
Henry Maksoud se divorciou da primeira
mulher, Ilde, mãe de Roberto e Claudio, em 1979. Dois anos depois, teria
assumido o relacionamento com a então manicure do hotel, Georgina. Em
2011, eles se casaram sob regime de separação total de bens. Segundo
Shikicima, da OAB-SP, a viúva poderá entrar na Justiça com uma ação de
reconhecimento de união estável e, dependendo do resultado, concorrer em
iguais condições com os filhos.
Fotos: Bio Barreira/Ag. Istoé; Zanone Fraissat/Folhapress
Maksoud foi proprietário, diretor e colunista da revista Visão, proprietário do Hotel Maksoud Plaza, da empresa de engenharia Hidroservice e da Sisco, uma das primeiras empresas de informática no Brasil.
Em 1987 Maksoud chegou a escrever uma proposta de Constituição(460 páginas) baseada na Demarquia.
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