Entre mapas do século XVI e coordenadas modernas digitadas no GPS, há um vazio: na latitude 22°33′N e longitude 91°22′W, marinheiros encontram apenas água, vento e uma pergunta que não se aquieta — onde foi parar a Ilha Bermeja?
A (Ilha Vermelha, em português) aparece nas cartas desde 1539, repetida por séculos em inventários e atlas oficiais, e entrou no debate público quando, no final dos anos 2000, negociações sobre direitos marítimos e concessões de petróleo revelaram que sua ausência muda fronteiras e milhões em recursos potenciais.
A localização de Bermeja segundo os mapas antigos |
O contexto que alimenta o mistério
Se a ilha existiu, sua posição a tornaria um ponto-chave para delimitar a Zona Econômica Exclusiva mexicana no Golfo do México. A perda daquela referência cartográfica implicou uma redução prática na área onde o México poderia explorar recursos — uma região que, segundo estimativas discutidas na imprensa e entre especialistas, poderia conter quantidades significativas de hidrocarbonetos.
Hipóteses que circulam (da mais natural à mais conspiratória)
1. Erro cartográfico e ilusão histórica
Mapas antigos podem reproduzir enganos: observadores do século XVI podiam ter confundido bancos de areia, atóis temporários ou manchas de vegetação marinha com terra firme. Documentos e mapas repetidos ao longo dos séculos reforçam uma “verdade” cartográfica que nem sempre precisa corresponder ao mar real.
2. Processos geológicos e subida do nível do mar
Mudanças no relevo submarino, subsidência local ou elevação do nível do mar podem afundar ou cobrir ilhotas baixas. Relatos científicos que investigaram o ponto onde Bermeja deveria estar não encontraram vestígios, o que torna esta explicação plausível do ponto de vista geográfico.
A localização atual segundo o Google Maps |
3. Ilusão atmosférica: Fata Morgana e miragens marinhas
Pescadores e marinheiros conhecem fenômenos ópticos que criam imagens de terra onde não há nada. A miragem complexa chamada Fata Morgana pode projetar formas que lembram costas ou ilhas sobre o horizonte, distorcendo e multiplicando imagens e confundindo cartógrafos antigos e modernos.
4. Teorias de conspiração — sabotagem por interesses externos
Entre boatos populares e acusações políticas, circulou a hipótese de que poderosos interesses estrangeiros — nomeadamente agências ou forças vinculadas aos Estados Unidos — teriam removido, encoberto ou manipulado evidências sobre Bermeja para reduzir a área marítima mexicana e abrir caminho a direitos de exploração petrolífera. A ideia ganhou tração durante as negociações de 2008–2009, quando políticos mexicanos questionaram abertamente a súbita “invisibilidade” da ilha e o impacto econômico ligado ao petróleo.
A ilha fantasma de Bermeja foi colocada no papel pela primeira vez pelo renomado cartógrafo do século 16 Alonso de Santa Cruz em sua obra de 1539, El Yucatán e Islas Adyacentes. |
O que as buscas científicas mostraram
Em 2009 pesquisas oficiais e expedições realizadas, inclusive por universidades mexicanas, não encontraram restos ou elevações submarinas que correspondessem à ilha em suas coordenadas tradicionais. As expedições concluíram que não havia vestígios visíveis de uma porção de terra que perdera sua integridade recentemente — reforçando que a explicação poderia ser geológica, cartográfica ou, simplesmente, que Bermeja nunca existiu como ilha persistente.
Entre a suspeita e o impossível
A ideia de que uma ilha inteira poderia ser deliberadamente destruída ou escondida por ação humana levanta questões práticas esmagadoras: quem teria meios, motivação e sigilo suficientes para tal operação sem deixar provas claras? Por outro lado, o poder simbólico do petróleo e os interesses geopolíticos aceleram especulações e tornam a narrativa conspiratória irresistível para manchetes e lendas locais.
O que permanece: perguntas abertas
Bermeja foi um erro repetido por gerações de cartógrafos, uma ilha efêmera engolida pelo mar, uma miragem óptica bem documentada por pescadores, ou um território perdido por outras razões mais sinistras?
As implicações econômicas e diplomáticas de sua ausência mostram como uma linha desenhada num mapa pode transformar-se em moeda de poder e motivo de desconfiança entre nações.
Conclusão
O que resta é um mar de histórias: mapas antigos que a nomeiam, coordenadas vazias que desafiam tecnologia moderna, e uma mistura de ciência, lenda e política que mantém Bermeja viva na imaginação coletiva. Seja fruto de erros cartográficos, forças naturais, ilusões atmosfericas como a Fata Morgana ou de conspirações alimentadas por interesses petrolíferos e diplomáticos, a Ilha Bermeja permanece um enigma que diz tanto sobre como lemos mapas quanto sobre como guardamos (ou disputamos) o que acreditamos ser nosso.
Uma herança enigmática!
Fontes: Wikipedia — Bermeja; Mexico News Daily — “The mysterious case of an island that ‘vanished’ in the Gulf of Mexico”; Ancient-Origins — análise sobre Bermeja e hipóteses (miragem / Fata Morgana)
*Material co-produzida com ajuda da IA da Microsoft