Francisco Tenório Cerqueira Júnior, conhecido como Tenório Jr. ou carinhosamente como “Tenorinho”, foi um dos grandes talentos da música brasileira. Nascido no bairro das Laranjeiras, no Rio de Janeiro, destacou-se como pianista na cena da bossa nova e do samba-jazz, frequentando espaços icônicos como o Beco das Garrafas.
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Tenório Jr em foto da revista Manchete de 1974 |
Seu único álbum solo, Embalo, lançado em 1964 quando tinha apenas 21 anos, é considerado uma obra-prima do gênero. Além disso, seu piano brilhou em discos antológicos como É Samba Novo, de Edson Machado, e Vagamente, de Wanda Sá.
O Desaparecimento
Em 27 de março de 1976, durante uma turnê na Argentina com Vinícius de Moraes e Toquinho, Tenório Jr. saiu do hotel em Buenos Aires dizendo que iria comprar cigarros e remédios. Nunca mais voltou. Tinha 33 anos, quatro filhos e uma esposa grávida de oito meses.
Durante anos, seu paradeiro foi envolto em mistério. Rumores indicavam que ele poderia estar preso em La Plata, como mencionado por Elis Regina em entrevista à Folha de S. Paulo em 1979. Mas foi apenas uma década depois que a verdade começou a emergir.
A mulher e os filhos de Tenório Jr. na época do desaparecimento |
Revelações e Documentários
Em 1986, o ex-agente da Marinha argentina Cláudio Vallejos revelou à revista Senhor que Tenório Jr. havia sido sequestrado por uma patrulha militar, torturado e executado com um tiro na cabeça. A versão foi confirmada pelo grupo Tortura Nunca Mais, que apontou março de 1976 como a data de sua morte.
O cineasta Rogério Lima produziu o curta Balada para Tenório, e posteriormente, com a produtora Videcom, lançou o documentário Tenório Jr.?, que estreou no Festival de Cinema e Vídeo do Rio de Janeiro. Em 1996, o filme foi reeditado com imagens inéditas e exibido pela TV Cultura.
Interesse Internacional
O cineasta espanhol Fernando Trueba iniciou um projeto de longa-metragem sobre o desaparecimento de Tenório Jr., ampliando o alcance internacional da sua história.
Cláudio Vallejos: Prisões e Extradição
Vallejos voltou ao Brasil por volta de 2002, estabelecendo-se em Chapecó (SC). Foi preso por estelionato em 2010 e novamente em 2012. Em 2013, após pedido da Justiça argentina no âmbito da Operação Condor, foi extraditado para responder por seus crimes.
Reconhecimento do Corpo Após Quase 50 Anos
No sábado, 13 de setembro de 2025, após quase cinco décadas de incerteza, o corpo de Tenório Jr. foi finalmente identificado. A confirmação veio por meio de exames de datiloscopia realizados pela Equipe Argentina de Antropologia Forense (EAAF), com apoio da Justiça argentina e da Embaixada do Brasil2.
O cadáver, encontrado em um terreno baldio na região de Tigre, próximo a Buenos Aires, em 20 de março de 1976, havia sido enterrado como indigente no Cemitério de Benavídez. A identificação encerra um dos capítulos mais dolorosos da história da música brasileira e dos crimes da ditadura militar argentina.
“É um alívio porque, finalmente, podemos saber com mais segurança o que aconteceu com ele naquele triste março de 1976. Tristeza pela confirmação de que Tenório foi vítima da violência e enterrado como um desconhecido, longe da família, dos amigos, dos parceiros de música”, declarou a família em nota oficial.
Legado e Justiça
O caso de Tenório Jr. continua sendo símbolo da brutalidade da repressão política e da importância da memória histórica. A Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos (CEMDP) segue acompanhando o caso, que integra os processos da Operação Condor.
Fontes: Revista Manchete
Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania
Revista Fórum
G1 – Rio de Janeiro
Conteúdo atualizado de publicação de 2014
*Material produzido com auxílio da IA da Microsoft