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O Eclipsar do Glamour: Como a Publicidade Perdeu a Criatividade em Nome da Volatilidade e do Medo

                                       


Houve um tempo em que a publicidade não era apenas um anúncio, mas um espetáculo. Comerciais de TV eram aguardados, comentados e até imitados. Eram pequenas obras de arte que contavam histórias, evocavam emoções e, no processo, criavam uma conexão mágica e duradoura entre o público e a marca. A criatividade e o glamour eram ingredientes essenciais, capazes de transformar um simples produto em objeto de desejo. Hoje, esse cenário parece uma memória distante.

A publicidade contemporânea, especialmente em vídeo, frequentemente se resume a uma apresentação asséptica de produtos e logotipos. A ousadia deu lugar à cautela, e a originalidade foi atropelada pela urgência. Essa mudança não é acidental, mas o resultado de uma tempestade perfeita de fatores que esvaziaram a alma criativa da indústria.


A publicidade perdeu o sabor e a graça /imagem: IA Microsoft


A ditadura da volatilidade

O ritmo frenético do mundo digital impôs uma nova lógica à publicidade. A atenção do público é um recurso escasso e a publicidade tornou-se extremamente volátil. Campanhas que outrora duravam meses agora precisam ser efêmeras, pensadas para um ciclo de vida de poucos dias ou horas nas redes sociais. A pressão por resultados imediatos e a necessidade de viralização constante substituíram a paciência necessária para desenvolver narrativas complexas e memoráveis.

Esse cenário cria um efeito paradoxo: para se destacar em um mar de informações, a publicidade deveria ser mais criativa, mas a volatilidade do meio desincentiva o investimento em ideias grandiosas. A velocidade do consumo atropelou a capacidade de reflexão e elaboração, resultando em uma comunicação rasa e desprovida de impacto emocional duradouro.

O Politicamente Correto e a Inércia do Medo

Nenhum fator, no entanto, contribuiu tanto para a morte da criatividade na publicidade quanto o medo. O medo de desagradar, de cometer um erro, de ser rotulado como insensível ou, em casos mais extremos, de ser "cancelado". Em um ambiente onde o politicamente correto se tornou uma norma rígida, a criatividade, por sua própria natureza, se torna um risco.

O humor, a ironia e a provocação, ferramentas poderosas do passado, são agora evitadas. A publicidade, outrora um campo fértil para a experimentação de ideias, transformou-se em um terreno minado. Campanhas que desafiam convenções ou que exploram nuances complexas são vistas como perigosas. O resultado é uma homogeneização de mensagens, onde as marcas se protegem atrás de um escudo de segurança, preferindo a inércia a qualquer tipo de polêmica.

A Lacração e o Vazio das Causas

A busca por engajamento e relevância levou muitas marcas a aderir a causas sociais, a famosa "lacração". A intenção, muitas vezes, é genuína, mas a execução se mostrou, na maioria das vezes, superficial e oportunista. A publicidade se apropria de bandeiras importantes da sociedade, mas o faz de forma artificial, buscando apenas a validação do público, e não uma conexão verdadeira.

O resultado é uma enxurrada de peças publicitárias que se assemelham, todas clamando por uma causa, mas sem a profundidade ou a criatividade que a tornaria impactante. A repetição exaustiva dessa fórmula esvaziou a mensagem e enfraqueceu o poder da publicidade como um todo. Quando todas as marcas gritam a mesma coisa, nenhuma delas é realmente ouvida.

O Fim de uma Era Criativa

A publicidade perdeu o brilho e a capacidade de encantar porque abandonou sua essência. A volatilidade do digital, o medo de errar em um mundo hipercrítico e a apropriação superficial de causas sociais estrangularam a criatividade e o glamour que a tornavam tão poderosa. A publicidade de hoje, em sua maioria, é um produto da autocensura e da falta de risco.

O público percebe essa mudança. Não se conectam com listas de produtos ou com mensagens pré-fabricadas. A publicidade só voltará a ser relevante e a nos cativar quando ousar novamente. Quando deixar de ter medo e voltar a contar histórias, a provocar, a emocionar e a brilhar, em vez de apenas se exibir. Só assim, o glamour e a criatividade, que tanto amamos e admiramos, poderão voltar a ter seu lugar de direito.

Fonte: Linkedin
*Este artigo contou com ajuda da IA do Google