Todo ano, como um ritual cansado e previsível, o Brasil se veste de verde e amarelo, estufa o peito e marcha pelas avenidas em nome da “independência”. Tanques, soldados, bandeiras tremulando ao som de hinos difíceis de se entender e que não falam nada com nada. É o desfile de 7 de setembro — uma encenação patriótica que, em vez de unir, escancara as fissuras de um país que ainda não sabe o que significa ser livre.
Piegas e perigosamente inflamável
O desfile militar é vendido como celebração da soberania nacional. Mas, na prática, virou um espetáculo piegas, um teatro de vaidades para alimentar a fantasia de um Brasil que nunca existiu. Em tempos de polarização extrema, onde esquerda e direita se digladiam como gladiadores cegos, esse tipo de evento não apenas soa antiquado — ele é perigoso.
A extrema-direita, em especial, encontrou nos desfiles uma vitrine perfeita para seu fetiche autoritário. A exaltação da pátria, da ordem e da força virou combustível para discursos que flertam com o totalitarismo. A bandeira do Brasil, que deveria representar todos, foi sequestrada por uma ideologia que exclui, que divide, que grita “meu país” enquanto nega o país dos outros.
Nacionalismo: o veneno disfarçado de orgulho
O nacionalismo exacerbado que permeia esses desfiles não é inocente. É a mesma lógica que alimenta conflitos mundo afora, que justifica guerras, que constrói muros e que transforma vizinhos em inimigos. No Brasil, essa retórica já causou estragos suficientes: famílias divididas, violência política, intolerância religiosa e racial. E tudo isso sob o pretexto de “amar a pátria”.
Mas amar o Brasil não deveria significar marchar atrás de tanques. Deveria significar cuidar das pessoas que vivem aqui.
Uma nova festa da independência: Celebrando solidariedade, união e paz
Talvez seja hora de reinventar o 7 de setembro. Em vez de desfiles militares, que tal promover um grande evento de solidariedade nacional? Um dia em que todos os estados se conectem, em que diferentes crenças se encontrem, em que as pessoas se olhem nos olhos e digam: “Estamos juntos”.
Imagine praças cheias de gente ajudando umas às outras, oficinas culturais, debates sobre direitos humanos, ações de combate à fome, celebrações da diversidade. Isso sim seria um ato de independência — libertar-se do ódio, da ignorância e da arrogância disfaraçada de patriotismo.
Independência não é gritar, é escutar
O Brasil precisa de menos marcha e mais escuta. Menos tanque e mais abraço. Menos bandeira como símbolo de guerra e mais como símbolo de acolhimento. Porque a verdadeira independência não se conquista com armas — se constrói com empatia.
(Editorial)