Nos últimos anos, o Brasil tem acompanhado uma mudança significativa na estrutura familiar: o número de mulheres à frente de lares passou a se equiparar — ou até superar — o número de homens em posição de chefia familiar. Embora esse dado tenha sido amplamente repercutido como sinal de empoderamento feminino, é essencial analisá-lo com mais profundidade e cuidado. Nem toda estatística positiva carrega consigo uma realidade favorável.
O contexto econômico e social por trás do dado
Desemprego masculino: A pandemia da COVID-19 e as crises econômicas subsequentes atingiram de forma brutal o mercado de trabalho, afetando principalmente setores tradicionalmente masculinos, como construção civil e indústria. Muitos homens perderam seus empregos ou enfrentaram condições precárias de trabalho.
Maternidade solo e abandono: O crescimento do número de mulheres chefes de família também decorre do abandono paterno. Boa parte dessas mulheres são mães solo, forçadas a assumir todas as responsabilidades domésticas e financeiras.
Subemprego e informalidade: Muitas das mulheres que chefiam lares o fazem em condições desfavoráveis, inseridas em trabalhos informais, mal remunerados, ou que as deixam vulneráveis — longe de qualquer ideal de igualdade ou autonomia genuína.
A complexidade da chefia familiar
Modelos familiares ainda majoritários: Nos lares onde há presença de ambos os gêneros adultos, a liderança familiar ainda é majoritariamente masculina.
Desigualdade no mercado de trabalho: A taxa de participação feminina na força de trabalho brasileira ainda está abaixo de 50%. Isso reflete não apenas barreiras sociais e estruturais, mas também expectativas culturais — enquanto homens são socialmente pressionados a prover, mulheres frequentemente não são cobradas da mesma forma a ingressar ou permanecer no mercado de trabalho.
Obrigatoriedades distintas: Mulheres não têm exigência legal de serviço militar como os homens, evidenciando papéis sociais diferenciados que impactam suas trajetórias.
Cuidado com a estigmatização
A interpretação apressada de dados como esse pode colaborar para narrativas injustas — seja romantizando a precariedade vivida por milhares de mulheres, seja desqualificando os desafios enfrentados pelos homens. A marginalização do masculino por setores da mídia e da sociedade pode gerar ressentimento e radicalização, fenômenos que têm sido observados com o crescimento da extrema direita em diversos países.
Empatia e responsabilidade social
Homens e mulheres enfrentam adversidades diferentes e muitas vezes igualmente dolorosas. A solução não está na competição entre os gêneros, mas sim na construção de uma sociedade mais empática, equitativa e comprometida com o bem-estar de todos os seus cidadãos — reconhecendo fragilidades, combatendo estigmas e valorizando a dignidade em todas as formas de viver.
*Este artigo foi produzido com apoio da IA da Microsoft