Pular para o conteúdo principal

A surpreendente Gruta da Bruxa, em Minas Gerais: Um Outro Mundo

 Por Pepe Chaves 

A Gruta da Bruxa é um outro habitat, se trata de um dos lugares mais diferenciados em que já estive aqui na região de São Tomé das Letras. Mas na verdade, essa gruta se localiza geograficamente em Luminárias-MG, cidade vizinha que também guarda um genuíno repertório de avistamentos de OVNis, lendas e muita beleza natural.

No interior da gruta há paredões que elevam o seu teto a muitos metros de altura.


 


Entretanto, o acesso pela gruta pode ser feito através de Sobradinho de Minas, distrito de São Tomé das Letras, de onde a Gruta da Bruxa dista cinco quilômetros. A região de Sobradinho de Minas reserva também outras belezas naturais únicas, como a Gruta de Sobradinho, alguns poços conhecidos e o Pico do Gavião, na divisa dos municípios de São Tomé das Letras e Luminárias.


 


A Gruta da Bruxa integra uma vasta região onde podem ser encontradas tocas, grutas e cavernas, compreendendo essa região de Sobradinho de Minas, onde está situada a também maravilhosa Gruta do Índio, onde estive com o amigo Maurício Kairuz em agosto de 2022.


 


Placa sinaliza a entrada da Gruta da Bruxa.





 


Minha primeira visita à Gruta da Bruxa foi no final de 1996, depois em 2017, mas somente em novembro de 2021, pude adentrá-la mais profundamente. A gruta possui mais de 300m de extensão e grande parte do trajeto é feito dentro da água que circula e se empoça no seu solo – muitas das vezes, se misturando com fezes de morcegos.


 


Da última vez, estivemos lá em 2021, juntamente com cinco amigos numa pequena expedição guiada por Ciro Donabella (experiente guia local) que nos instruiu e orientou após a entrada. Para adentrar à gruta é imprescindível o uso de equipamentos especiais, como materiais de primeiros socorros, capacetes e lanternas, além da presença de um guia local que já tenha feito o trajeto.


 

Uma das partes mais altas do teto possui cerca de 20m de altura.

A entrada se faz por duas grandes aberturas frontais, onde é necessário fazer silêncio, pois há colmeias de abelhas selvagens nos paredões da entrada. Ambas as entradas se encontram cheias de pedras soltas de tamanhos variados que foram trazidas pelas chuvas, causando assim, o assoreamento da entrada.


 


Logo após entrarmos e ainda próximos ao início da trilha para o seu interior, vimos que há uma “inscrição” com símbolos de magia riscada na parede do lado esquerdo da gruta. Esta inscrição foi feita no início da década de 1990 pela produção da novela Filhos do Sol, em parte filmada em São Tomé das Letras e exibida pela extinta TV Manchete naquela época. Essa inscrição deixada lá pela equipe de teledramaturgia da Manchete é muito criticada por alguns, ao ter descaracterizado a gruta.


 

Inscrição deixada na Gruta da Bruxa pela produção da novela Filhos do Sol, da extinta TV Manchete, que realizou filmagens no local.





 


Uma fauna sem a luz solar


 


Lá dentro, onde luz do Sol jamais chegou, pudemos vislumbrar um outro mundo com criaturas distintas, mas vivendo em perfeita simbiose sem depender da luz solar. À medida que adentramos, notamos que o ar se torna mais rarefeito e úmido. Lá dentro, constatamos morcegos, aracnídeos e outros insetos bem diferenciados dos residentes na superfície. Havia também bastante opiliões, criaturas de pernas finas e longas, semelhantes às aranhas.


 


Juntamente com os experientes amigos Maurício Kairuz e Ciro Donabella – que já fizeram a travessia do local em outras oportunidades – adentramos à gruta com segurança e pudemos vislumbrar as diversas nuances de um ambiente privado de luz.


 


É incrível a elevada altura do teto em determinados locais da gruta, sendo que em outros, as passagens se tornam mais apertadas. Ao mesmo tempo em que nos encontramos em um salão enorme, com vários metros de altura, poucos metros adiante, já estávamos em locais mais estreitos e até claustrofóbicos, pois a gruta varia muito sua altitude e seu afunilamento.


 


Com isso, há partes em que precisamos rastejar para seguir adiante, inclusive, tendo que nos molhar na água e lama do solo para prosseguir no trajeto.


 

Observando detalhes do interior da gruta: ar úmido e rarefeito.






 


A permanência no interior da gruta, que deve ser feita somente com a presença de um guia local, não é indicada a pessoas que sofram de claustrofobia ou que se afobem com lugares fechados. Apesar de o trajeto em si não ser tão perigoso, é preciso manter a calma e a atenção constantemente. Também é preciso cautela, pois, caso ocorra um acidente num local como a Gruta da Bruxa, o socorro só poderia chegar por lá algumas horas mais tarde.


 


Uma das partes mais complicadas fica praticamente no meio da travessia. Neste local temos que segurar numa corda presa no alto, dependurando nosso corpo nela, para assim podermos alcançar com os pés uma escada feita de cordas logo abaixo e assim podermos então descer de uma altura de uns quatro metros para continuar o trajeto interno, agora numa parte ainda mais baixa.


 

Pepe Chaves e Marcelo Iqueuti descendo pela escada de cordas ao patamar inferior da trilha principal.


 




 


Reflexões no ventre da Terra


 


Em geral, a travessia não é difícil, mas é preciso manter o foco e usar toda atenção possível a cada movimento naquele ambiente diferenciado. Estar ali para mim foi como ser tragado pelo útero da Terra. É uma sensação estranha, primitiva, essa de se sentir recolhido às “entranhas do planeta”, onde o breu predomina e o silêncio se faz por completo – exceto quando é rompido pelo voo de algum morcego.


 


E apesar do breu total que se faz ali quando apagamos as lanternas, eu senti um profundo acolhimento lá dentro, como poucas vezes senti noutros lugares. Juntamente com os amigos Maurício e Alexandre, segui, até cerca de 50 metros da saída, enquanto os demais aguardavam por nós no meio da travessia.


 


Lá dentro há muitos morcegos e suas fezes infestam partes do local em que teríamos que passar, o que precisamos evitar a todo custo, pois o contato ou aspiração do pó de tais fezes podem causar graves doenças ao organismo humano.


 

Vislumbramos os detalhes geológicos e as belezas únicas da vida animal no interior da gruta.




 


Assoreamento da gruta


 


Desde a primeira vez que estive na Gruta da Bruxa, no final de 1996, até o momento em que lá estive da última vez em 2021, pude notar que a gruta está sendo assoreada com o tempo.


 


A gruta que é composta por rochas de quartzito (geologicamente jovens) teve sua origem esculpida pelas águas das chuvas através dos tempos. As águas pluviais que ali entravam cavaram saídas, buscando vazão para as partes mais baixas que adentravam ao subsolo.


 


Quando lá estive pela primeira vez, suas duas entradas (semelhantes a duas narinas enormes) estavam bem limpas e abertas. No entanto, quando da minha última visita, notei que várias pedras se encontravam na entrada e até mesmo a alguns metros lá dentro, assoreando o solo e assim, tornando o teto mais baixo.


 


Parece que a mesma água da chuva que cavou a gruta através dos tempos, também está assoreando-a, ao carregar e amontoar muitas pedras na região da sua entrada. Provavelmente, se em breve não for feito um trabalho para desassorear a gruta, sua entrada estará comprometida dentro de algum tempo.


 

Detalhe de um dos locais numa parte profunda da gruta.






 


Pareidolia: a lenda da bruxa e uma figura feminina


 


Há uma lenda antiga envolvendo a Gruta da Bruxa e a razão por levar este nome. Diz a lenda que a “bruxa” remete a uma senhora que teria vivido por anos sozinha nesta exuberante caverna em tempos passados. Segundo a lenda, em tempos passados, ela era procurada por mulheres de fazendas da região para realizar abortos nelas.


 


E curiosamente, observando uma foto tomada no interior da gruta por nosso companheiro Marcelo Iqueuti [imagem abaixo] durante a nossa expedição, pode-se observar uma formação que se assemelha a um perfil feminino na parede, à direita, como se olhasse para a esquerda.


 



Fiz aqui um contorno da figura feminina, em verde [à direita], com a foto original ao lado, para facilitar a visualização da "Bruxa" na gruta. Fica o registro aos amantes da espeleologia e da pareidolia.



 


Apesar de sabermos se tratar de uma simples pareidolia, a imagem impressiona pela perspectiva e por sua definição natural, formada pelas rochas da caverna, a partir do local em que a foto foi tomada, remontando assim, detalhes característicos de um perfil feminino.


 


Na imagem, a pupila parece olhar para nós, que passávamos ali naquele momento em que a foto foi tomada. Dá para perceber a boa resolução dessa formação incrível, desde a esclerótica (parte branca do olho), a pálpebra, os contornos do nariz, da testa, da boca semi-aberta, do queixo e a disposição natural dos cabelos sobre a testa.


 


Coincidência ou não, ao saber dessa minha entrada na gruta, uma amiga me perguntou se a Bruxa estaria por lá. Eu disse a ela que estaria sim, mas só em espírito...


 


Sujos, mas felizes: agradeço aos caros amigos pela oportunidade de participar desta experiência inesquecível, Mauricio Kairuz, Alexandre, Marcelo Iqueuti, Leonardo Galeano e Ciro Donabella. 




 


*  Pepe Chaves é jornalista e editor do diário digital Jornal São Tomé Online e da Rede de Portais ZINESFERA.


 


- Fotos: Marcelo Iqueuti/Leonardo Galeano/Maurício Kairuz.

Matéria originalmente publicada em Via Fanzine

.....