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A Incrível história do homem que viveu 130 anos e teve 250 filhos

 

FOTO REAL DE PATA SECA



  Nascido em Sorocaba na primeira metade do século XIX, Roque José Florêncio foi comprado por um fazendeiro de São Carlos (SP) e escolhido para ser "escravo reprodutor" no então distrito e hoje cidade de Santa Eudóxia. Familiares e um estudo afirmam que ele teve mais de 200 filhos e, segundo a certidão de óbito, morreu com 130 anos. "É uma história verdadeira, não é uma lenda", diz Maria Madalena Florêncio Florentino  a neta de PATA SECA , como era conhecido Florêncio. 

A certidão de óbito real existe e foi lavrada em 17 de fevereiro de 1958,  e diz que Roque José Florêncio morreu por insuficiência cardíaca, miocardite, esclerose e senilidade.  E a enorme  quantidade de filhos estaria contabilizada em um antigo livro da Fazenda Grande. A família diz que não tem documentos que comprovem os nascimentos e procura os descendentes nas redes sociais.  "No Broa tem, em São Paulo, Araraquara, mas, quando eu pergunto, dizem que não sabem. É uma incógnita", afirma o neto Celso Tassim, de 59 anos.

  Marco Antonio Leite Brandão, pesquisador da história de São Carlos, disse que o documento mais antigo sobre escravidão na cidade é de 1817.  E afirma que  o auge da mão de obra forçada se deu a partir de meados da década de 1860, com a expansão do café.

MADALENA,  NETA DE PATA SECA


"O mais importante, talvez, das pesquisas que realizei foi a identificação de uma rota de comércio de escravos entre a Província da Bahia, centralizada no município de Caetité, e São Carlos. Havia, de fato, um mercado de escravos, a Fazenda Babilônia, limite entre São Carlos e Descalvado", afirmou. "Mas nada sobre reprodutores ou sobre Pata Seca".

 

 O psicólogo Marinaldo Fernando de Souza, doutor em educação pela Universidade Estadual Paulista (Unesp) produziu   uma tese que aborda a história de Pata Seca, e acredeita que a explicação para a falta de documentos está na desvalorização da memória negra. "A história oficial tende a forçar o esquecimento da memória negra", diz. "Em Santa Eudóxia existe uma história a ser vasculhada, a ser contada, e que fica relegada a um status de menor valor".


 Estima-se  que mais de 30% dos moradores de Santa Eudóxia sejam descendentes de Roque  

A família  diz ainda que  Roque foi comprado na Vila Sorocaba e vendido para Visconde da Cunha Bueno, dono de um latifúndio voltado para a produção de café. Na propriedade, ganhou o nome e o apelido de Pata Seca pelas mãos compridas e finas. 

Como era alto - tinha 2,18 m - e, na época, acreditava-se que homens com canelas finas geravam filhos do sexo masculino, foi escolhido para se deitar com as escravas e gerar mais mão de obra.


Também cuidava dos cavalos e era responsável pelo transporte de correspondência entre a fazenda e a cidade. e nisso conheceu  sua esposa.

 

CERTIDÃO DE ÓBITO DE PATA SECA

Um dia, ele pediu a mão da moça e, com o "sim", colocou a jovem na garupa e rumou para a fazenda. Foi celebrado o casamento e Roque ganhou dos patrões 20 alqueires de terra. Depois de gerar mais de 200 filhos na senzala, tava na  hora de formar a própria família com Palmira, com quem teve ainda mais nove crianças. 

 Porém como era pobre e não tinha condições para cercar todo o terreno, Pata Seca acabou perdendo grande parte da propriedade.  Seu trabalho passou a  ser o de fabricar canecas e assadeiras com lata, além de criar galinhas, plantar abobrinha e mandioca e preparava rapaduras. Além de    vender os ovos, utensílios e doces por fazendas da região.


"Ele tinha um cavalinho e, como era muito grande, arrastava os pés no chão. Falavam que ele ia acabar matando o animal e ele dizia que não, que era o ganha pão dele",  afirma a neta  Madalena .  que  também lembra das roupas wue o  vó usava,   sempre brancas  . “Eram roupas brancas, tipo as que os escravos usam. Feitas com esse tipo de pano que temos para passar no chão hoje. Ele amarrava na cintura e na barra dos pés, e sempre andava inteiro de branco”, contou.

Além disso, a neta também conta sobre o dia que o avô foi atacado por uma colônia de formigas.

RUA EM SUA HOMENAGEM EM SANTA  EUDÓXIA


“Ele vivia varrendo a frente da casa, no sítio. Era cheio de terra e ele varria tanto que conseguia deixar tudo limpinho, igual o chão de casa mesmo. Um dia ele estava varrendo e acho que encostou em um formigueiro, e juntou um monte de formigas subindo nele, por todos os lados. E eu lembro dele reclamando que foi picado, a roupa branca ficou quase toda preta com aquele tanto de formiga”, afirmou. Seja pelo incrível número de filhos que teve ou pela incrível idade   ou pelo porte físico forte que tinha,  a figura de Pata Seca não dá sinais de que será esquecida tão cedo pelos moradores de Santa Eudóxia.  Ele nunca chegou a  conhecer ou conviver com a maioria dos filhos que teve - com exceção dos filhos do casamento, a neta diz: “Ele era sempre assim, quieto, andava olhando para baixo, com feição séria. Falava pouco, mas era muito carinhoso com os netos e filhos. Não perguntávamos sobre os outros filhos que ele sequer conheceu direito, mas sabia que estavam por aí. Gostava muito de conversar com os amigos sentado em frente de casa, mas nunca perdia esse semblante, que às vezes dava até a impressão de ser triste ou apenas sério, mas sempre pensativo”  .