Maria Branca dos Santos mais conhecida por Dona Branca, era conhecida como "Banqueira do Povo", era na prática uma espécie de agiota que causou um enorme escândalo financeiro nos anos 1980 em Portugal Sua história começa ainda na sua juventude, quando prevendo o declínio da monarquia e mais tarde do frágil e novo regime republicano , e mais ainda em seguida a participação de Portugal na Primeira Guerra Mundial, ela percebeu o nível de pobreza aumentando como nunca e teve uma ideia. E Ideia que a deixaria muito rica e muito poderosa.
A família de Branca dos Santos era extremamente pobre e, não chegou a completar a instrução primária Como ela desde muito cedo guardava o dinheiro da venda de peixes ao longo do dia com algum comerciante, e recebia ao anoitecer uma pequena compensação pelo "depósito" ela teve a ideia de expandir isso. Muito honesta e carismática logo outros vendedores ambulantes começaram a fazer empréstimos com ela.Ficavam com o dinheiro e logo lhe devolviam com juros. No decorrer dos anos 1950, com a política Salazarista, em que reinava a pobreza nacional, ela já havia se tornado uma bancária clandestina. Estrategicamente, começou a atribuir juros a quem lhe confiasse as suas economias, tanto maiores quanto mais elevadas fossem. Utilizava bastante bem o esquema de pirâmide.
Branca assumiu a posição diferente à da Banca e da técnica bancária: recebia depósitos acrescidos de 10% de juros a quem aplicasse as suas poupanças e concedia empréstimos a juros elevados. Esta medida foi crucial para a expansão da sua atividade e incrível renda.
No auge, fosse rico ou pobre, pescador a empresário, todos recorriam à "Banqueira do Povo" como passou a ser conhecida em todo o país.A estratégia de pirâmide adotada por Branca, funcionava da seguinte maneira: Ontem pessoa 'X' depositou 20 contos.
Hoje pessoa 'Y' deposita 20 contos (2 contos iriam para a pessoa 'X' - ficava logo com os juros mensais)
Funcionava assim sucessivamente, uma vez que o cliente de ontem recebia os juros provenientes do investimento do(s) cliente(s) do dia seguinte.
Uma vez que tanto o cliente 'X' como o cliente 'Y' não procediam ao levantamento da totalidade do depósito, facilmente se gerava um fundo sustentável, que seria aumentado significativamente dado que, ao invés do levantamento, os clientes voltariam a depositar.
O empréstimo que concedia era rigorosamente estudado e concedido a juros elevados atingindo valores até metade do empréstimo.
Ao longo de décadas, o esquema funcionou, pois toda semana apareciam dezenas de cliente novos vindos de toda Portugal.
O sucesso dessa modalidade obrigou à criação de novos escritórios espalhados tanto por Lisboa quanto por todo o país, já que as filas à porta do seu escritório no bairro Alvalade já eram prá lá de extensas.
COM UM DE SEUS SOBRINHOS
Branca contava com a colaboração de familiares e amigos íntimos que eram aliciados e estimulados pela entrada de quantias exorbitantes de dinheiro vivo.
Já muitas das demais pessoas que contratara estavam ligadas a negócios ilícitos e, por isso, estes angariadores tinham a esperteza e conhecimentos técnicos, conseguindo assim obter valores astronômicos.
Sua atividade não passou despercebida às autoridades judiciais e bancárias, mas Branca sabia como suborná-las , facilmente! Tudo ia a mil maravilhas, até que em março de 1983, o jornal semanário Tal & Qual, fez uma extensa matéria de capa sobre Dona Branca e divulgou a sua atividade e os seus métodos .
Porém o resultado foi ao contrário e Branca conseguiu, em muito pouco tempo, quadruplicar o seu capital. Centenas de pessoas dirigiram -se mais ainda aos seus escritórios para obter um juro ao mês de 10% que fazia concorrência ao juro oficial da banca que era de 3% ao ano.
E isto deixou o Banco de Portugal e o Governo, em polvorosa, prevendo a muito curto prazo a bancarrota da banca. O Ministro das Finanças, Ernâni Lopes, estrategicamente, foi à televisão advertir e acautelar os portugueses.
E com isso , houve o deslocamento de centenas de pessoas querendo reaver o seu dinheiro depositado, o que imediatamente gerou uma confusão incontrolável e um pânico estrondoso.
Os escritórios de Dona Branca estavam carregados com sacos com dinheiro e a falta de controle da situação levou a que, gananciosamente, alguns dos seus colaboradores sacassem o dinheiro que conseguissem ou passassem os bens imobiliários para o seu próprio nome.
Como muitos dos colaboradores de Branca estavam envolvidos no mundo do crime, na casa de Manuel Manso (suspeito de um assalto de uma ourivesaria, tendo furtado cerca de 3 quilos de ouro), durante uma busca à sua residência, fora encontrado um cofre contendo 60 mil contos em dinheiro vivo e dezenas de cheques no valor de 90 mil contos. Dona Branca, se comprometeu a devolver a quantia que havia sido depositada pelos seus clientes, mas para isso passou milhares de cheques, todos eles sem fundo!
Envolvida com colaboradores corruptos e criminosos, um deles o seu advogado, que fingia legalizar as suas ações financeiras, Branca foi finalmente presa em 8 de Outubro de 1984 e colocada preventivamente na Cadeia das Mónicas, em Lisboa.
Foi acusada pelo Ministério Público, juntamente com 68 acusados, de associação criminosa, múltipla prática da emissão de cheques sem cobertura, burla agravada, falsificação e abuso de confiança, tendo sido iniciado o julgamento em 1988 no Tribunal da Boa-Hora, que teve a duração de 1 ano. Já os outros 24 acusados foram absolvidos.Pouco tempo depois, e devido ao estado débil de saúde e à idade avançada, teve a pena reduzida e saiu em liberdade, vivendo até a data da morte num lar para idosos, cega e na miséria. Foi enterrada no cemitério do Alto de São João. Presente estavam apenas 5 pessoas.Em 1993 a RTP produziu a novela ''A Banqueira do Povo '' e a personagem inspirada em Dona Branca ficou a cargo de Eunice Muñoz. Na história, a personagem ganhou o nome de Dona Benta e não Dona Branca. A novela obteve resultados bastante aceitáveis na época, sendo transmitida ao final da tarde. Até hoje Dona Branca é muito querida por parte da população portuguesa já que ela com seus empréstimos , ajudou e salvou a vida e a economia de muitas pessoas, negócios e famílias.E, pensando bem, Branca não foi nunca nenhuma bandida. Quem sabe, alguém que se tivesse um pouco mais de preparo e colaboração e que não soube agir corretamente aos olhos da lei que se tivesse agido assim de forma que legalmente fosse permitido e se talvez se não tivesse perdido seu marido ainda cedo e tivesse tido filhos ou tivesse tido algum grau de preparo intelectual poderia ter criado algo que durasse até hoje, mesmo depois de sua morte como alguma fundação ou alguma coisa do tipo.
