Em 10 de junho de 1990 aconteceu algo que nem o melhor roteirista de Hollywood poderia imaginar.Quando o vôo 5390 de Birmingham a Málaga se encontrava a 5 mil metros de altura, a diferença de pressão fez o para-brisas do avião saltar pelos ares, succionando o piloto que, semi-consciente, ficou enganchado sobre a cabine no exterior . Tudo porque no dia anterior o encarregado de manutenção da aeronave BAC 1-11 da Britsh Airways equivocou-se no diâmetro dos parafusos ao substituir o para-brisas da cabine. As primeiras palavras do capitão Tim Lancaster a bordo do One-Elevem de 43 toneladas com 81 passageiros a bordo e 6 tripulantes, não permitiam pressagiar um dos acidentes mais estranhos da história da aviação civil.
- "... é com prazer que anuncio que o clima é ensolarado e seco em Málaga e estaremos em nosso destino em aproximadamente 120 minutos..."
Poucos minutos depois a tripulação se dispunha a preparar os lanches para os passageiros, quando o avião encontrava-se a 5.300 metros, mais ou menos à altura de Didcot, Oxfordshire. De repente, sem prévio aviso, os pilotos escutaram um ruído muito forte e imediatamente a atmosfera interior ficou congelada com uma espessa neblina branca que impedia a visão.
O pior estava a ponto de ocorrer. O para-brisas esquerdo, do lado do capitão Lancaster, tinha-se separado da fuselagem dianteira. Quando a condensação dissipou, o auxiliar de voo Nigel Ogden observou que o capitão já não se encontrava em seu assento, e só viu seus sapatos presos na janela! Os passageiros das primeiras poltronas perceberam que algo de muito errado tinha acontecido.Uma mulher entrou em estado de choque quando pôde perceber que quando a porta da cabine se abriu momentaneamente viu o piloto ter passado voando! O avião estava sem piloto e pior: O piloto saira voando! Tim Lancaster havia se precitado no "buraco" devido à rápida descompressão. Imagine que nesse momento um outro avião passase no local. A tripulação e os pasageiros veriam algo surreal. O corpo do piloto pressionado contra o exterior da cabine pela pressão das rajadas de vento resultante da velocidade do avião e gritando a 5 mil metros de altura com tão só suas pernas no interior do avião.E se já não bastasse tudo isso , ao ser sugado, Tim sem querer empurrou a alavanca de comandos para baixo e desligou o piloto automático provocando o descontrole da aeronave. A reação imediata do auxiliar de voo Nigel foi segurar os pés do piloto e não abandonou esta posição até o fim do incidente. Outro herói, o co-piloto Alistair Atcheson tentava devolver a estabilidade a aeronave. O risco de colisão com outro avião era muito alto, já que se encontravam num dos espaços aéreos com mais tráfego no mundo. Ele então disse o "may-day" com dificuldades pois era impossível escutar o rádio com um vento de mais de 500 quilômetros por hora lhe açoitando a cara. A aeronave então perdia altitude a 30 metros por segundo.Além do piloto lutando pra não ser sugado só mais um pouco ,um turbilhão de objetos voava para o funil de pressão onde estava o piloto enganchado. Uma garrafa de oxigênio que estava presa na parede passou como um aríete a poucos centímetros da cabeça de Nigel. A cabine converteu-se num redemoinho de papéis e cartas de navegação que acabaram se enfileirando para o orifício de saída.Outro auxiliar, John Heward, preparou os passageiros para uma aterrissagem de emergência e rapidamente se dirigiu a cabine para ajudar. Nigel sentiu que o vento estava prestes a levá-lo para o lado do capitão, ou seja, também para para fora do avião e começou a gritar desesperado. John foi ao seu auxílio agarrando sua cintura com um braço e com o outro o assento do auxiliar.A zona aberta também fez saltar pelos ares o console de navegação, bloqueando o controle do acelerador, e fazendo com que a aeronave seguisse ganhando velocidade à medida que descia. Pra piorar mais ainda, a porta da cabine acabou abrindo, a ala de passageiros despressurizou fazendo com que todas as máscaras de oxigênio caíssem e o avião virou um caos completo com os gritos e o pânico dos passageiros, enquanto a tripulação tentava tranquilizá-los, assegurar objetos soltos e organizar as posições de emergência.O corpo de Tim lá fora seguia golpeando contra a fuselagem e começava a congelar. Tim desmaia devido ao ar e a temperatura exterior.Vendo que a coisa que já estava horrível fcara cada segundo mais impossível O co-piloto decide ir na raça e baixou a aeronave mais de 3 mil metros em 95 segundos para buscar oxigênio para os passageiros. Ali reduziu a velocidade a 300 quilômetros por hora, conseguiu equilibrar o aparelho com o piloto automático -temporariamente desativado-, e fez uma chamada de socorro urgente e básica como tem que ser numa hora dessas: "Mayday... mayday... o capitão tem meio corpo para fora do avião a 5 mil metros de altitude!" Só que devido à pressão do ar, ninguém conseguiu escutar a resposta do controle de tráfego aéreo e para piorar tudo um pouco mais, a dificuldade para estabelecer uma comunicação bidirecional provocou um atraso na informação que o 5390 recebia sobre a situação de emergência e, portanto, um atraso na aplicação do plano e procedimentos a seguir..E apesar da manobra de descida ser bem sucedida, acabou resultando em um outro problema: a pressão sobre o corpo do capitão diminuiu e ele começou a deslizar perigosamente para a lado do exterior da cabine até que seu rosto apareceu na janela lateral:"Tudo o que recordo é como o Tim agitava os braços... parecia que media mais de um metro... parecia um boneco de vento, nunca esquecerei. Seus olhos abertos esbugalhados. O rosto colado contra a janela lateral sem pestanejar me fizeram pensar que ele já estava morto", disse Nigel Ogden.Apesar de todos já acharem que o capitão Tim já estivesse morto, não pensaram na possibilidade de soltá-lo, simplesmente pelo perigo que isso supunha. Pela posição na qual se encontrava e a velocidade acrescentada, o corpo de Tim podia introduzir-se num dos motores.Os braços de Nigel e John segurando Tim já estavam meio congelados e começavam a fraquejar. Simon Roger, outro auxiliar de vôo que estava na cabine de passageiros, teve que ir completar a corrente para segurar o capitão. Três homens, um atrás do outro, lutavam heróicamente para evitar o deslizamento do pesado corpo de Tim Lancaster contra o vazio.Finalmente, às 07:55, 35 minutos após a decolagem, o co-piloto conseguiu estabelecer (e escutar) comunicação por rádio e aproximou o aparelho do aeroporto de Southampton. Pediu à torre de controle de tráfego uma pista de 2.500 metros já que estava preocupado pela elevada carga de combustível. Disseram-lhe que somente a de 1800 metros estava disponível. Aí então Sob um barulho ensurdecedor e assovios do açoite do vento, a aeronave pousou, não sem dificuldades, no aeroporto de Southampton às 7:55 da manhã de 20 de junho de 1990. Os passageiros desembarcaram em total comoção, mas ilesos e aliviados. Contra todas as probabilidades, o capitão sobreviveu e foi levado ao hospital da cidade com uma fratura de braço, outra no pulso, hematomas pelo corpo todo, hipotermia e princípio de congelamento das extremidades. Por sua vez, a valentia de Nigel Ogden lhe rendeu um ombro deslocado, meia cara congelada e um grande dano por congelamento em seu olho esquerdo.Dois anos depois,em 1992, a investigação sobre o acidente foi concluída e estabeleceu que a pressão trabalhista à que estava submetido o mecânico encarregado da substituição do para-brisas fez com que não procedesse de forma correta na escolha dos parafusos. Os que foram colocados tinham diâmetro ligeiramente menor.
O co-piloto Alistair Atcheson foi galardoado com a medalha ao mérito aéreo e seus colegas receberam inumeráveis homenagens e prêmios por seu valor em uma viagem onde a metade do capitão sobreviveu ao vôo no exterior, contra todos os prognósticos. Menos de 6 meses depois, após recuperar-se das fraturas, o capitão Tim Lancaster já estava voando de novo. MEMBROS DA TRIPULAÇÃO E O CAPITÃO NO HOSPITAL: O CO PILOTO ABRAÇA SUA MULHER "Eu estava saindo, com a mão na maçaneta da porta, quando houve uma enorme explosão e a porta foi arrancada das minhas mãos", lembrou Ogden.
“Eu pensei: 'Meu Deus. É uma bomba!
“Eu virei e vi que o pára-brisa dianteiro tinha desaparecido e Tim, o piloto, estava saindo por ele. Ele havia sido sugado para fora do cinto de segurança e tudo o que eu podia ver eram suas pernas.
O comissário de bordo aterrorizado, então com 36 anos, arriscou a própria vida para se agarrar desesperadamente ao piloto atingido, enquanto "agitava-se como um boneco de pano", meio dentro e meio fora do avião em alta velocidade.
"Eu pulei a coluna de controle e o agarrei pela cintura dele para evitar que ele saísse completamente", disse Ogden.
REPARE NAS MARCAS DE SANGUE DE TIM LANCASTER NA JANELA E NA LATARIA DO AVIÃO ONDE ELE FICOU SENDO SUGADO |
Poucos minutos depois a tripulação se dispunha a preparar os lanches para os passageiros, quando o avião encontrava-se a 5.300 metros, mais ou menos à altura de Didcot, Oxfordshire. De repente, sem prévio aviso, os pilotos escutaram um ruído muito forte e imediatamente a atmosfera interior ficou congelada com uma espessa neblina branca que impedia a visão.
NIGEL OGDEN APÓS A ATERRISAGEM E OS PRIMEIROS SOCORROS |
O co-piloto Alistair Atcheson foi galardoado com a medalha ao mérito aéreo e seus colegas receberam inumeráveis homenagens e prêmios por seu valor em uma viagem onde a metade do capitão sobreviveu ao vôo no exterior, contra todos os prognósticos. Menos de 6 meses depois, após recuperar-se das fraturas, o capitão Tim Lancaster já estava voando de novo. MEMBROS DA TRIPULAÇÃO E O CAPITÃO NO HOSPITAL: O CO PILOTO ABRAÇA SUA MULHER "Eu estava saindo, com a mão na maçaneta da porta, quando houve uma enorme explosão e a porta foi arrancada das minhas mãos", lembrou Ogden.
“Eu pensei: 'Meu Deus. É uma bomba!
“Eu virei e vi que o pára-brisa dianteiro tinha desaparecido e Tim, o piloto, estava saindo por ele. Ele havia sido sugado para fora do cinto de segurança e tudo o que eu podia ver eram suas pernas.
O comissário de bordo aterrorizado, então com 36 anos, arriscou a própria vida para se agarrar desesperadamente ao piloto atingido, enquanto "agitava-se como um boneco de pano", meio dentro e meio fora do avião em alta velocidade.
"Eu pulei a coluna de controle e o agarrei pela cintura dele para evitar que ele saísse completamente", disse Ogden.