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LEONARDO DI CAPRIO:''CRESCI NUM BAIRRO INFESTADO DE DROGAS''


"Sinto-me como se toda uma época da minha vida tivesse terminado," diz Leonardo DiCaprio. O  ator de 41 anos está  suado, sentado  a uma mesa, sob uma árvore florida, num pequeno pátio em Bel Air, Los Angeles. Veste calças largas, tênis, um pólo azul e um boné de basebol também azul. É uma das maiores atrações de bilheteira e ganha cerca de 15 milhões de euros por filme mas, hoje, a estrela de cinema de um 1,86 m, membros longos e desengonçados e olhos azuis, está infeliz, cansado e tenso. "A minha avó morreu", justifica. "Oma" é o nome carinhoso pelo qual tratava a avó materna, Helene Idenbirken, que morreu em Oer-Erkenschwick, na Alemanha. "Tinha 93 anos", acrescenta. "Teve uma vida longa e fantástica." 

Eram muito chegados.  Quando criança, ia visitá-la  na Alemanha todos os Verões e Leonardo foi marcado pelas histórias que a avó costumava contar-lhe sobre o sofrimento por que passou a família dela enquanto refugiada da Segunda Guerra Mundial – relatos de conflito, opressão e extermínio. Essas histórias moldaram-lhe a imaginação, tal como as lições que lhe foram transmitidas pelo pai, um veterano do movimento pacifista americano. Leonardo é demasiado novo para ter vivido a experiência da guerra, ou mesmo os anos do Vietnã  e a contracultura da década de 60, mas é, em muitos aspectos, um produto desse tempo, imbuído de todo aquele ideal de um mundo perfeito. E esta é uma característica que se tem tornado mais vincada com os anos.

Leonardo DiCaprio nasceu em 1974, em Los Angeles, numa zona degradada da cidade onde os pais se tinham instalado. O pai, George DiCaprio, de 65 anos, foi, em tempos, um comerciante de revistas em quadrinhos  que se autodefiniu como radical e rebelde. A mãe, Irmelin, de 69 anos, é uma imigrante alemã que trabalhou como secretária especializada em Direito. 

"A minha mãe nasceu num abrigo, na Alemanha", explica Leonardo. "O pai dela era um mineiro que não acreditava no regime nazista e que foi enviado para a guerra por ter tentado alimentar os escravos russos que estavam   trabalhando nas minas. Quando regressou, a família tentou fugir da Alemanha nazista. A sua determinação em sobreviver é surpreendente." 

"A minha mãe, quando ainda mal começara a andar e era uma criança magra e enfezada, andou perdida durante duas semanas. Esteve internada entre os 3 e os 6 anos. Por fim, a família dela conseguiu vir viver para Nova Iorque, para a pior  região do Bronx. Todos os dias era  uma luta pela sobrevivência." 


Os pais de Leonardo conheceram-se quando eram estudantes no City College de Nova Iorque. Casaram e, pouco depois, mudaram-se para Los Angeles; quando Leonardo tinha 7 anos, separaram-se. George ficou no bairro econômico de Echo Park e continuou a ajudar a criar o filho. "O meu pai continua a ser um hippie de esquerda, revivalista, de cabelos compridos e assim vai continuar  ser até morrer. É o homem mais inteligente que conheço. Falo com ele antes de tomar qualquer decisão." 

A mãe matriculou-o em escolas seletas  para crianças dotadas. Todos os dias o levava de carro, numa viagem de quatro horas, para assistir às aulas na University Elementary School [uma escola primária-laboratório] da Universidade da Califórnia, em Los Angeles e, mais tarde, ao Center for Enriched Studies de Los Angeles. Na escola, estava seguro, mas a segurança terminava logo que ele voltava ao inferno em que vivia. 

"Cresci num bairro infestado de droga", explica. "Era uma verdadeira loucura. Eu e a minha mãe vivíamos num dos  locais mais desagradáveis do mundo – um lugar onde vivi até aos 8 anos. Depois, mudámo-nos para o Echo Park – o centro do crack, da cocaína, da heroína e da prostituição. Ao fundo da nossa rua, havia um hotel onde as camas tinham colchões de água. Via gente   fazendo  sexo em becos. Lembro-me de ter sido abordado, quando tinha 5 anos, por um indivíduo de  capa de chuva que trazia agulhas e crack. Vi traficantes de droga tentarem vender drogas e prostitutas drogadas. Era aterrador. E havia  crianças violentos. Várias vezes fui agredido." 

Como conseguiu manter-se afastado do consumo de drogas, vivendo, como vivia, rodeado de narcóticos? "Ganhei, desde muito cedo, a noção de que as drogas são nefastas", responde. "Mais tarde, quando me tornei  ator, vi outros atores morrerem por causa das drogas." River Phoenix morreu aos 23 anos de overdose, na calçada   em frente ao clube noturno Viper Room, em West Hollywood. "Depois, foi a vez de Heath Ledger ter morrido novo. É terrível pensar que aqueles tipos já   não andam por aqui ."

Quando era rapazinho, Leonardo queria ser biólogo, oceanógrafo ou agente de viagens – trabalhos que lhe permitissem ver o mundo. Os pais queriam que ele fosse pianista. 

"Certo dia, comecei a soluçar ao piano, ‘Já não aguento mais isto!’", recorda, rindo. "Foi o fim das minhas aulas de piano." Decidiu representar depois de saber que o filho da madrasta, Adam Farrar, tinha ganho dinheiro por participar num anúncio de televisão. "Mas achei mesmo que ia acabar como biólogo marinho porque a natureza e a evolução sempre me fascinaram".

"O que me levou a ser  ator?" – põe a pergunta, retoricamente. E responde: "Querer ser  ator advém da necessidade de sermos amados e aceitos pelos nossos amigos e pelas pessoas que nos rodeiam. Qualquer ator que diga que isto não é verdade está   mentindo." 

DiCaprio começou a sua carreira no mundo do espectáculo como modelo infantil, tendo aparecido em mais de 30 anúncios. Seguiram-se filmes educativos infantis e papéis em séries televisivas  cõmicas de grande audiência. Aos 16 anos, conseguiu um papel numa série de grande sucesso,Growing Pains. Abandonou o liceu e, com o dinheiro que ganhara, comprou uma casa para a mãe. A grande oportunidade surgiu em 1992, quando Robert De Niro o escolheu, entre centenas de jovens, para um dos papéis principais de This Boy’s Life



O realizador preferido de Leonardo DiCaprio é, de longe, Martin Scorsese, um amigo com quem fez filmes épicos:Gangues de Nova IorqueO Aviador e Entre Inimigos. Mas o papel por que é mais conhecido é o de amante clandestino de Kate Winslet em Titanic – o maior sucesso de bilheteira de sempre, que rendeu para cima de 800 milhões de euros. 

Reencontra-a no filme Revolutionary Road, dirigido por Sam Mendes, o marido de Winslet: é a história de um casal da classe média, ansioso e imbecilmente entediado, preso numa vida suburbana estupidificante e num casamento em declínio. Quando sugiro a Leonardo que é uma história sobre aquilo que teria acontecido se ele e a personagem desempenhada por Kate Winslet tivessem sobrevivido ao naufrágio do Titanic, ele ri-se: "Meu Deus! É muito provável que sim!" 

"Para mim, o Titanic corresponde a um período de rebelião", recorda. "Fui considerado o rapaz mais bonito do mundo, um destruidor de corações quando, aos 24 anos, não era o que eu desejava. A atenção que os mídia lhe dedicaram assustou Leonardo e ainda hoje o deixa intrigado. "A imprensa, aquela cambada dos paparazzi, as histórias ridículas dos tablóides... Fiquei farto de me ver a mim próprio! A minha reação instintiva foi um enorme desejo de fugir." 

DiCaprio perdeu o ar de menino bonito que arrebatou o coração de milhões de adolescentes. Mas até não há muito tempo manteve uma beleza juvenil. Agora, o que se destaca é uma impressionante masculinidade e um charme natural. Tem mantido relações românticas com mulheres de extrema beleza, entre as quais a modelo brasileira Gisele Bündchen. O seu caso intenso e conturbado com Bündchen foi o mais duradouro – quase cinco anos. Separaram-se em Novembro de 2005, depois de muita especulação na imprensa cor-de-rosa sobre um possível casamento. 

"O casamento é uma instituição que eu respeito muito mas na qual não acredito forçosamente, pelo menos por enquanto", disse na época. (...)

No passado, Leonardo recusou-se a discutir as suas relações amorosas, justificando ter "poucas emoções", "nunca ter estado apaixonado" e "não acreditar no casamento". Pergunto-lhe se ainda acredita nessas frases. "Não", responde, "isso soa-me a ignorância da juventude. Quando é que eu disse isso? Há três ou quatro anos?! Essas declarações deviam ser abolidas da estratosfera. Acredito absolutamente no casamento. E ao dizer isto, sei que contradigo em absoluto o que disse antes. Sim, quero casar e ter filhos." The Sunday Times