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LUCIANA FONTENELLE O TERRÍVEL FIM DE UMA MULHER PERFEITA




Para se vingar do ex-namorado, modelo
salta do prédio com o filho nos braços

Roberta Paixão

Luciana Fontenelle, 28 anos, morava num luxuoso edifício da Zona Sul do Rio de Janeiro com o filho, Igor, de 1 ano e 10 meses. Loira e linda, filha de família tradicional, ela parecia não ter motivos para se queixar da vida. Foi modelo e chegou a ser eleita garota de Ipanema em 1985. Não tinha muitos convites para trabalhar ultimamente, mas conseguia ganhar uns trocados comprando bugigangas no exterior para revender. Na segunda-feira passada, Luciana tomou o filho no colo, subiu no parapeito de seu apartamento, no 16º andar, e anunciou que iria saltar carregando a criança. Xingou o ex-namorado, que batia furiosamente na porta do lado de fora, refutou os apelos da polícia e saltou. Morreu instantaneamente. O pequeno Igor ainda foi levado com vida ao hospital, mas não sobreviveu.

O salto no vazio encerrou quatro anos de um romance furioso e instável entre a jovem e o produtor musical Eduardo Chermont de Britto, 32 anos, filho do renomado advogado Sérgio Chermont de Brito. Os dois namoraram firme durante seis meses e chegaram a se mudar, juntos, para Los Angeles. Mas, daí em diante, tudo degringolou. "Eles viviam brigando", recorda a atriz Gisele Fraga, amiga de Luciana. Quando Igor nasceu, durante uma das separações, Chermont não quis assumir a criança -- o que só fez depois de um processo de reconhecimento de paternidade. Em novembro passado, uma briga do casal acabou em boletim de ocorrência no 15º DP, na Gávea, quando Luciana acusou o rapaz de agressão e tentativa de estrangulamento depois de uma relação sexual. Mas ficaria pior. Há duas semanas, Eduardo ganhou na Justiça o direito de visitar o filho, concessão que Luciana não admitia, principalmente depois de saber que o rapaz andava passeando com uma nova namorada. Quando soube da decisão do juiz, Luciana avisou à irmã que iria matar-se.

Na segunda-feira, Luciana passou a manhã inteira telefonando para a casa do ex-namorado, que se recusava a atender suas ligações. Ao meio-dia, ela pegou as chaves do carro e pediu à babá que vestisse o garoto para ver o pai. Não foi uma visita cordial. Igor ficou brincando no chão durante duas horas, sozinho, enquanto os pais discutiam. Quando os ânimos estavam mais que exaltados, Luciana saiu batendo a porta. Ao chegar em casa, tornou a ligar para o ex-namorado, ameaçando matar-se e levar o garoto consigo. "No começo eu não acreditei", conta a babá, Déa Maria. "Quando vi que a coisa parecia séria, disse que ia descer com o Igor para comprar cigarros, mas ela não deixou." Alarmado com o telefonema, Chermont foi à delegacia e, acompanhado de policiais, dirigiu-se ao prédio onde morava a modelo. Era tarde. Luciana já havia trancado a porta do quarto e subido com o garoto no parapeito da janela.

O suicídio de Luciana é uma variação de um crime mítico: o de Medéia, personagem da tragédia escrita por Eurípedes no século V a.C. Abandonada por seu amado, Medéia cometeu o mais abominável dos crimes, matando os próprios filhos para ferir o homem que desejava com exclusividade. "A diferença é que Medéia tinha uma personalidade egoísta, se protegia. O comportamento dessa moça era obsessivo, mas também depressivo, autodestrutivo", explica o psiquiatra Eduardo Ferreira-Santos. Luciana e Igor foram velados juntos, mas enterrados em cerimônias distintas. Chermont foi ao cemitério apenas para o sepultamento do filho.