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NOTA DE APOIO A SININHO, BODE EXPIATÓRIO DE UMA IMPRENSA PARANOICA E ASSANHADA*



A quem assusta Sininho? Se nos orientarmos por notícias dos maiores veículos de comunicação do país, a muita gente. De forma covarde, em geral sem direito a resposta, a militante-ativista, como se identifica, tem sido alvo de uma campanha difamatória implacável. Qualquer atitude sua é vista como indicativo de que, afinal, foi descoberta a grande gênia responsável por "todo o mal que assola as manifestações", como se, livrando-se dela, enfim fosse reinar "a grande festa da democracia" na qual a grande imprensa às vezes finge acreditar.

É de se perguntar, assim, qual foi o crime que ela cometeu. Pelo que temos visto, a despeito do esforço ferrenho de várias frentes, este crime não existe. Em um primeiro momento, numa das mais confusas manchetes da história do jornalismo brasileiro, tentou-se associá-la a uma história sinistra com o deputado Marcelo Freixo. A história, em resumo, afirmava que o "o estagiário do advogado tinha dito que a ativista (Sininho) tinha afirmado que o homem que acendeu o rojão era ligado ao deputado estadual Marcelo Freixo" ( http://g1.globo.com/rio-de-janeiro/noticia/2014/02/estagiario-de-advogado-diz-que-ativista-afirmou-que-homem-que-acendeu-rojao-era-ligado-ao-deputado-marcelo-freixo.html). Sininho negou qualquer envolvimento com acusação tão complexa, Freixo também, e o tal advogado teve que ir a uma rádio pedir desculpas (http://radioglobo.globoradio.globo.com/noticias-do-rio-de-janeiro/2014/02/10/ADVOGADO-DE-ENVOLVIDO-NA-MORTE-DE-CINEGRAFISTA-PEDE-DESCULPAS-A-MARCELO-FREIXO.htm).

Este pedido de desculpas, no entanto, não foi o suficiente para acalmar nossos comunicadores. Tão logo foram presos os dois suspeitos de acender o rojão que matou Santiago Andrade e se viu que, afinal, eles não se pareciam com os monstros dos pesadelos de reacionários, começou uma campanha para se arrumar outros culpados. Um advogado de defesa com interesses pra lá de duvidosos e obscuros subitamente se tornou fonte inestimável de informação. E Sininho virou um dos primeiros nomes da lista de condenados de antemão.

O que levantava as suspeitas sobre Sininho: ter dois endereços, duas carteiras de identidade, vestir uma camisa com "Favela Resiste" escrito, ter supostamente xingado um policial e ter sido presa em manifestações. Quanto às duas últimas acusações, a de desacato e a de formação de quadrilha, já ficou inúmeras vezes comprovado desde o começo das manifestações o quanto policiais mentem e forjam provas em protestos. As prisões em atos políticos quase sempre acontecem de modo aleatório, gratuito e arbitrário; em um dos dias em que Sininho foi presa, 15/10, seu "delito" foi simplesmente estar sentada na escadaria da Câmara. Em relação ao resto das acusações, felizmente ainda podemos vestir o que nos parece melhor e morar onde quisermos ou conseguirmos.

A campanha difamatória atingiu novos patamares na quinta-feira, quando se noticiou que, afinal, talvez tivesse sido descoberta uma evidência do financiamento macabro de manifestantes. Do portal governista mais fanático ("Bem articulada, fria e com uma disposição quase infinita para tocar o terror, a ativista radical Elisa Quadros, mais conhecida como Sininho..." - o que explica o ódio dessa frase?) ao conservadorismo abjeto de Reinaldo Azevedo, muita gente deu as mãos para bater junto em Sininho, e, por extensão, em todas as manifestações.

O crime de Sininho teria sido aceitar dinheiro de dois vereadores, um delegado e um juiz para promover um evento na Cinelândia. O problema, é claro, é que não há nada de errado, ilegítimo ou ilegal nisso. O evento em questão, realizado na antevéspera de Natal, sequer era uma manifestação, mas sim uma celebração de caráter cultural e filantrópico. Seu objetivo foi coletar doações para moradores de rua e vítimas de enchente e promover atividades subversivas como oficinas de alongamento e rodas de samba. Tudo transcorreu na mais santa paz, incluindo uma cerimônia ecumênica comandada por um padre católico e um pastor evangélico. Não houve qualquer depredação ou confronto. Quem duvidar pode conferir assistir ao vídeo desta dança (http://www.youtube.com/watch?v=oNZoRe8eYz4) ou ver estas fotos de crianças e um teatro de fantoches (https://www.facebook.com/paulakossatz/media_set?set=a.10202222226170686.1073741844.1040842293&type=1). A página do evento é esta https://www.facebook.com/events/1383209528597400/ .

Que fique claro: em nada nos interessa se Sininho quer ajudar a organizar um ato cultural e, para isso, pede apoio financeiro a políticos, juízes e delegados. Nós do Rio na Rua não mantemos qualquer espécie de vínculo partidário e sempre nos sustentamos de nossos próprios bolsos, mas se outro participante assíduo de manifestações, agindo de forma legal e legítima, faz diferente, isso não nos diz respeito. Somos democráticos e plurais. Quanto às acusações levianas de que existe uma #bolsamanifestante, se quiserem levar adiante esta suspeita estúpida, que ao menos arrumem evidências sólidas disso. Apesar de todos sabermos quem freta ônibus, decreta feriado e obriga trabalhadores a ir às ruas para atender a suas causas próprias -- e de jamais termos visto incômodo na grande imprensa em relação a estes fatos (https://www.facebook.com/photo.php?fbid=637111856348962).

Desde que Santiago Andrade morreu, alguns dos poderes mais vis do Brasil estiveram mais assanhados do que nunca. Às custas da tragédia de um trabalhador morto, tentam a todo custo fazer avançar suas agendas, seja colocando em pauta leis absurdas que transformam o direito de protestar em terrorismo, seja perseguindo jovens politizados. A ânsia para encontrar lideranças faz parte dos esforços para desmobilizar as ruas. A grande mídia sabe que nossa horizontalidade é nossa maior força e é isso que ela não tolera. A busca paranoica por uma identidade dos protestos faz parte da estratégia para nos vencer.

A Sininho, declaramos todo nosso apoio e solidariedade contra esta campanha sórdida e desleal de difamação e calúnia. Esperamos encontrá-la muitas vezes mais em eventos culturais e manifestações pelas ruas da cidade, corajosa e aguerrida como sempre.

*Este texto foi escrito antes de sabermos qual seria a capa da Veja desta semana. Apesar de ainda não termos visto o que diz a matéria da revista asquerosa, temos plena confiança de que mais uma vez tratam-se apenas de factoides e mentiras ignóbeis.
 
Foto: NOTA DE APOIO A SININHO, BODE EXPIATÓRIO DE UMA IMPRENSA PARANOICA E ASSANHADA*

A quem assusta Sininho? Se nos orientarmos por notícias dos maiores veículos de comunicação do país, a muita gente. De forma covarde, em geral sem direito a resposta, a militante-ativista, como se identifica, tem sido alvo de uma campanha difamatória implacável. Qualquer atitude sua é vista como indicativo de que, afinal, foi descoberta a grande gênia responsável por "todo o mal que assola as manifestações", como se, livrando-se dela, enfim fosse reinar "a grande festa da democracia" na qual a grande imprensa às vezes finge acreditar.

É de se perguntar, assim, qual foi o crime que ela cometeu. Pelo que temos visto, a despeito do esforço ferrenho de várias frentes, este crime não existe. Em um primeiro momento, numa das mais confusas manchetes da história do jornalismo brasileiro, tentou-se associá-la a uma história sinistra com o deputado Marcelo Freixo. A história, em resumo, afirmava que o "o estagiário do advogado tinha dito que a ativista (Sininho) tinha afirmado que o homem que acendeu o rojão era ligado ao deputado estadual Marcelo Freixo"  ( http://g1.globo.com/rio-de-janeiro/noticia/2014/02/estagiario-de-advogado-diz-que-ativista-afirmou-que-homem-que-acendeu-rojao-era-ligado-ao-deputado-marcelo-freixo.html). Sininho negou qualquer envolvimento com acusação tão complexa, Freixo também, e o tal advogado teve que ir a uma rádio pedir desculpas (http://radioglobo.globoradio.globo.com/noticias-do-rio-de-janeiro/2014/02/10/ADVOGADO-DE-ENVOLVIDO-NA-MORTE-DE-CINEGRAFISTA-PEDE-DESCULPAS-A-MARCELO-FREIXO.htm).

Este pedido de desculpas, no entanto, não foi o suficiente para acalmar nossos comunicadores. Tão logo foram presos os dois suspeitos de acender o rojão que matou Santiago Andrade e se viu que, afinal, eles não se pareciam com os monstros dos pesadelos de reacionários, começou uma campanha para se arrumar outros culpados. Um advogado de defesa com interesses pra lá de duvidosos e obscuros subitamente se tornou fonte inestimável de informação. E Sininho virou um dos primeiros nomes da lista de condenados de antemão.

O que levantava as suspeitas sobre Sininho: ter dois endereços, duas carteiras de identidade, vestir uma camisa com "Favela Resiste" escrito, ter supostamente xingado um policial e ter sido presa em manifestações. Quanto às duas últimas acusações, a de desacato e a de formação de quadrilha, já ficou inúmeras vezes comprovado desde o começo das manifestações o quanto policiais mentem e forjam provas em protestos. As prisões em atos políticos quase sempre acontecem de modo aleatório, gratuito e arbitrário; em um dos dias em que Sininho foi presa, 15/10, seu "delito" foi simplesmente estar sentada na escadaria da Câmara. Em relação ao resto das acusações, felizmente ainda podemos vestir o que nos parece melhor e morar onde quisermos ou conseguirmos.

A campanha difamatória atingiu novos patamares na quinta-feira, quando se noticiou que, afinal, talvez tivesse sido descoberta uma evidência do financiamento macabro de manifestantes. Do portal governista mais fanático ("Bem articulada, fria e com uma disposição quase infinita para tocar o  terror, a ativista radical Elisa Quadros, mais conhecida como Sininho..." - o que explica o ódio dessa frase?) ao conservadorismo abjeto de Reinaldo Azevedo, muita gente deu as mãos para bater junto em Sininho, e, por extensão, em todas as manifestações.

O crime de Sininho teria sido aceitar dinheiro de dois vereadores, um delegado e um juiz para promover um evento na Cinelândia. O problema, é claro, é que não há nada de errado, ilegítimo ou ilegal nisso. O evento em questão, realizado na antevéspera de Natal, sequer era uma manifestação, mas sim uma celebração de caráter cultural e filantrópico. Seu objetivo foi coletar doações para moradores de rua e vítimas de enchente e promover atividades subversivas como oficinas de alongamento e rodas de samba. Tudo transcorreu na mais santa paz, incluindo uma cerimônia ecumênica comandada por um padre católico e um pastor evangélico. Não houve qualquer depredação ou confronto. Quem duvidar pode conferir assistir ao vídeo desta dança (http://www.youtube.com/watch?v=oNZoRe8eYz4) ou ver estas fotos de crianças e um teatro de fantoches (https://www.facebook.com/paulakossatz/media_set?set=a.10202222226170686.1073741844.1040842293&type=1). A página do evento é esta https://www.facebook.com/events/1383209528597400/ .

Que fique claro: em nada nos interessa se Sininho quer ajudar a organizar um ato cultural e, para isso, pede apoio financeiro a políticos, juízes e delegados. Nós do Rio na Rua não mantemos qualquer espécie de vínculo partidário e sempre nos sustentamos de nossos próprios bolsos, mas se outro participante assíduo de manifestações, agindo de forma legal e legítima, faz diferente, isso não nos diz respeito. Somos democráticos e plurais. Quanto às acusações levianas de que existe uma #bolsamanifestante, se quiserem levar adiante esta suspeita estúpida, que ao menos arrumem evidências sólidas disso. Apesar de todos sabermos quem freta ônibus, decreta feriado e obriga trabalhadores a ir às ruas para atender a suas causas próprias -- e de jamais termos visto incômodo na grande imprensa em relação a estes fatos (https://www.facebook.com/photo.php?fbid=637111856348962). 

Desde que Santiago Andrade morreu, alguns dos poderes mais vis do Brasil estiveram mais assanhados do que nunca. Às custas da tragédia de um trabalhador morto, tentam a todo custo fazer avançar suas agendas, seja colocando em pauta leis absurdas que transformam o direito de protestar em terrorismo, seja perseguindo jovens politizados. A ânsia para encontrar lideranças faz parte dos esforços para desmobilizar as ruas. A grande mídia sabe que nossa horizontalidade é nossa maior força e é isso que ela não tolera. A busca paranoica por uma identidade dos protestos faz parte da estratégia para nos vencer.

A Sininho, declaramos todo nosso apoio e solidariedade contra esta campanha sórdida e desleal de difamação e calúnia. Esperamos encontrá-la muitas vezes mais em eventos culturais e manifestações pelas ruas da cidade, corajosa e aguerrida como sempre.

*Este texto foi escrito antes de sabermos qual seria a capa da Veja desta semana. Apesar de ainda não termos visto o que diz a matéria da revista asquerosa, temos plena confiança de que mais uma vez tratam-se apenas de factoides e mentiras ignóbeis.

#RioNaRua