SÍNDROME DO PÂNICO
TRANSTORNO DO PÂNICO
O psicólogo Artur Scarpato participou do programa Alternativa Saúde do canal GNT falando sobre Ansiedade e Transtorno do Pânico.
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"Desenvolvo um
tratamento especializado para pessoas
com Transtorno do Pânico desde 1995. Um tratamento eficaz
vai além de controlar as crises de pânico, mas implica em agir
sobre os processos responsáveis pelo início, manutenção e recaída no
Pânico. A pessoa fica livre dos ataques de pânico e aprende a lidar com
os estados de vulnerabilidade e desamparo originais sem reagir com novos
picos de ansiedade. Este é o diferencial de uma abordagem
especializada". Artur Scarpato
Veja também o nosso Blog da Ansiedade e do Pânico
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ILUSTRANDO: COMO É A SÍNDROME DO PÂNICO
Você pode imaginar o que é sentir isto
?
"De repente
os olhos
embaçaram, eu fiquei tonto, não conseguia respirar, me sentia fora da
realidade, comecei a ficar com pavor daquele estado, eu não sabia aonde ia
parar, nem o que estava acontecendo..."
" ...era
uma coisa que parecia sem fim, as pernas tremiam, eu não conseguia
engolir, o coração batendo forte, eu estava ficando cada
vez mais ansiosa, o corpo estava incontrolável, eu comecei a
transpirar, foi horrível..."
"Depois da primeira
vez eu comecei a temer que acontecesse de novo, cada coisa diferente que
eu sentia e eu já esperava... ficava com medo, não conseguia
mais me concentrar em nada... deixei de sair de casa, eu não
conseguia nem ir trabalhar."
"Quando começa eu
já espero o pior, "aquilo" é muito maior do que
eu, o caos toma conta de mim, é como uma tempestade que passa e
deixa vários estragos... principalmente eu me sinto arrasada. Eu
sempre fico com muito medo de que aquilo ocorra de novo... minha vida
virou um inferno."
Por estes
relatos, que poderiam ser de diferentes pessoas que sofrem de Síndrome
do Pânico, é possível identificar o grau de sofrimento
e impotência que estas pessoas sentem ao passar pelas crises.
A pessoa
sente como se estivesse algo muito errado em seu corpo, que
se comporta de modo muito "estranho", "louco". Porém os exames clínicos não detectam nada de
anormal com seu organismo.
Como entender?
No Pânico o corpo reage
como se estivesse frente a um perigo, porém não
há nada visível que possa justificar esta reação.
A pessoa reage com ansiedade
frente às sensações de seu próprio corpo, há um estranhamento e um grande
susto em relação ao que é sentido dentro da pele. No Pânico o perigo
vem de dentro.
É comum a pessoa passar a restringir
a sua vida a um mínimo, limitando toda forma de estimulação para tentar evitar que
"aquilo volte". Assim a pessoa pode evitar sair de casa,
ir a lugares específicos, evitar algumas atividades, privando-se de
muitas experiências, o que começa a
comprometer a sua vida pessoal
e profissional.
Vamos compreender o que acontece com a pessoa
e como ela pode sair desta armadilha.
O QUE É SÍNDROME DO PÂNICO OU TRANSTORNO DO PÂNICO ?
A Síndrome do Pânico é um transtorno
psicológico caracterizada pela ocorrência de inesperadas crises de
pânico e por uma expectativa ansiosa de ter novas crises.
As crises de pânico - ou ataques de pânico - consistem em períodos de intensa ansiedade, geralmente com
início súbito e acompanhados por uma sensação de catástrofe iminente.
A freqüência das crises varia de pessoa para pessoa e sua duração é
variável, geralmente durando alguns minutos.
No geral, as crises de
pânico apresentam pelo menos quatro dos sintomas abaixo:
Taquicardia, falta de ar, dor ou desconforto no peito, formigamento,
tontura, tremores, náusea ou desconforto abdominal, embaçamento da
visão, boca seca, dificuldade de engolir, sudorese, ondas de calor ou
frio, sensação de irrealidade, despersonalização, sensação de
iminência da morte.
Há crises de pânico mais completas e
outras menores, com poucos sintomas.
Geralmente as crises de pânico se iniciam com o disparo de
uma reação inicial de ansiedade, que logo ativa um medo
em relação às reações que começam a ocorrer no corpo. Durante a crise
surgem na mente da pessoa uma série de interpretações
negativas sobre o que está ocorrendo, sendo muito comuns quatro
tipos de
pensamentos catastróficos: de que a pessoa está
perdendo o controle, que vai
desmaiar, que está enlouquecendo ou que
vai morrer.
No
intervalo entre as crises a pessoa costuma
viver na expectativa de ter uma
nova crise. Este processo, denominado ansiedade antecipatória,
leva muitas pessoas a evitarem certas situações e a restringirem
suas vidas.
O Transtorno do Pânico é reconhecido pela Organização Mundial de
Saúde (OMS) constando da Classificação Internacional de
Doenças (CID 10), na classe dos Transtornos Mentais. E aparece no DSM IV-R
(Diagnostic and Statistical of Mental Disorders, 4rd Edition Revised) da Associação Americana de Psiquiatria.
O
Pânico faz parte dos denominados transtornos
de ansiedade juntamente com as fobias (fobia simples e fobia social), o estresse pós-traumático, o transtorno obsessivo-compulsivo
e o transtorno de ansiedade generalizada.
Enquanto nas Fobias Simples a pessoa
teme uma situação ou um objeto específico fora dela, como
fobia de altura, por exemplo; no Pânico a pessoa teme o
que ocorre no seu próprio corpo; é para essas reações que se volta a
atenção, como se estas fossem perigosas.
Há
uma classificação da Síndrome
do Pânico com agorafobia e sem
agorafobia.
A agorafobia é um estado de ansiedade relacionado a estar em
locais ou situações onde escapar ou obter ajuda poderia ser difícil,
caso a pessoa tivesse um ataque de pânico. Pode
incluir situações como estar sozinho, estar no meio de multidão,
estar preso no trânsito, dentro do metrô, num shopping, etc.
As
pessoas que desenvolvem Pânico com agorafobia, geralmente se sentem mais
seguras
com a companhia de alguém de sua confiança e acabam
elegendo alguém como companhia preferencial. Este acompanhante funciona como um
"regulador externo", ajudando a pessoa a se sentir menos vulnerável
a uma crise de pânico.
O Início das Crises de Pânico
A ansiedade é uma reação emocional natural
que ocorre quando nos sentimos vulneráveis e na expectativa de um
perigo. Quando a resposta emocional de ansiedade é muito intensa e
repentina temos uma crise de pânico, que na verdade é um ataque agudo de ansiedade. Numa crise de pânico sofremos muito, achando que algo catastrófico pode nos acontecer a qualquer momento.
Todos
estamos sujeitos a ter uma eventual crise de pânico quando expostos a
um estresse muito alto, quando inundados por emoções ou em situações que
nos levam a um estado extremo de vulnerabilidade e desamparo. Esta é uma reação que faz parte do espectro normal de reações emocionais, apesar de pouco freqüente e muito desconfortável.
Pesquisas
mostram que eventos que ocorreram nos últimos dois anos da vida da
pessoa podem contribuir para uma pessoa chegar ao estado de
vulnerabilidade que vai desencadear uma crise de pânico. Os eventos
podem ser de vários tipos como separação, doença, morte de alguém
próximo, vivências traumáticas, crises existenciais, crises
profissionais, mudanças importantes na vida etc.
Estes
fatores aumentam significativamente o nível de estresse e podem levar a
pessoa a um grau de vulnerabilidade que vai disparar uma crise de
pânico em algum momento.
O
que caracteriza a Síndrome do Pânico é que estas crises passam a se
repetir. A partir de uma crise inicial a pessoa começa a apresentar crises repetidas, sentindo-se insegura, esperando ansiosamente por uma nova crise que pode ocorrer a qualquer momento.
Há alguns fatores que levam uma pessoa a desenvolver este padrão repetitivo de crises que caracteriza a Síndrome do Pânico.
Uma das razões é que geralmente as primeiras crises acabam sendo vividas como uma experiência traumática. Quando dizemos que uma experiência foi traumática, significa que ela fica registrada num circuito específico de "memória emocional"
que passa a disparar a mesma reação emocional automaticamente, sem a
participação da consciência. Sempre que aparecem algumas reações
parecidas no corpo inicia-se uma nova crise de pânico.
Outros fatores anteriores
podem tornar uma pessoa vulnerável a desenvolver um Transtorno de
Pânico, como ter um temperamento mais ansioso, ter vivido ansiedade de
separação na infância, ter sido criado por pais ansiosos, etc. Um fator
importante que contribui para o desenvolvimento do Pânico é que estas
pessoas geralmente têm falhas no processo de auto-regulação emocional,
ficando ansiosas e não sabendo como se acalmar. Todos estes fatores,
combinados ou não, contribuem para que uma pessoa venha a desenvolver
Síndrome do Pânico.
O
Medo das Reações do Corpo
Na Síndrome do Pânico, várias sensações do corpo acabam se associando às crises e passam a ser interpretados como um sinal de perigo iminente,
do início de uma possível crise. Sinais tão diversos como a tensão
decorrente de uma resposta de raiva, o enjôo de algo que não caiu bem no
estômago, o cansaço de uma noite mal dormida, a tristeza de alguma
perda, enfim todo o espectro das sensações e sentimentos pode ser
equivocadamente interpretado como indício de uma crise de pânico,
levando a pessoa a se assustar e assim, com medo do medo, iniciar uma crise.
A pessoa faz
constantes interpretações equivocadas e catastróficas de suas reações e
sensações corporais, achando que vai ter um ataque
cardíaco, que está doente, que vai desmaiar, que vai morrer, etc. É comum a
pessoa viver ansiosamente o que poderia
ser vivido como sentimentos diferenciados. Numa
situação que poderia despertar alegria, a pessoa se sente
ansiosa; numa situação que provocaria raiva ela também se sente
ansiosa. Qualquer reação interna ou sentimento mais intenso pode disparar
reações de ansiedade.
Esta perda de discriminação da paisagem interna compromete seriamente a vida da pessoa, pois esta se sente ameaçada constantemente por suas próprias sensações corporais. O corpo passa a ser a maior fonte de ameaça. Perder a confiança no próprio corpo leva a uma experiência de extrema fragilidade.
Geralmente algumas das reações
corporais que estavam presentes na primeira crise ficam associadas a
perigo e passam, a partir daí, a funcionar como disparadores de novas
crises. Sempre que estas reações aparecem dispara-se uma resposta automática de ansiedade, o que inicia uma crise de pânico.
As crises de pânico se iniciam geralmente a partir
de um susto - consciente ou não - em relação a algumas reações do corpo. As
reações disparadoras podem ser variadas, desde uma alteração nos
batimentos cardíacos, uma sensação de tontura, falta
de ar, enjôo, palpitação, tremor, etc.
Numa crise de pânico a pessoa reage frente aquilo que seu cérebro interpreta como um perigo. Não
há um perigo real, apenas uma hiperativação do circuito do medo que
dispara um alarme na presença de algumas reações corporais. A presença destes gatilhos
corporais pode disparar ansiedade mesmo quando a pessoa não tem consciência deles. Pesquisas apontam, por
exemplo, que numa crise de pânico noturna, reações
corporais que ficaram associadas a perigo surgem com a pessoa ainda
dormindo, e disparam uma reação de ansiedade que acorda a pessoa, muitas
vezes já tendo uma crise. Enfraquecer esta associação reações do corpo-perigo, que dispara
uma crise de pânico é um dos focos do tratamento.
Podemos identificar a emoção de medo/ansiedade
ocorrendo em três níveis: como reações fisiológicas (alterações na pressão sanguínea, nos batimentos cardíacos, piloereção, suor, hiperventilação etc), como reações afetivas (sentimentos de apreensão, desamparo,
ansiedade, desespero etc) e como reações cognitivas (preocupação, pensamentos catastróficos, ruminações etc)
A
ansiedade produz reações fisiológicas que são naturais
desta emoção, como taquicardia e respiração curta. A pessoa com
Pânico tende a interpretar estas reações como se fossem perigosas -
sinal de doença, de catástrofe
iminente, etc. Estas interpretações, na forma de pensamentos catastróficos, acabam por produzir mais ansiedade, o que
por sua vez aumenta ainda mais as reações fisiológicas .... reforçando assim os
pensamentos catastróficos.
Cria-se
assim um circuito infindável
onde as reações fisiológicas naturais da emoção de medo/ansiedade são
interpretadas equivocadamente como perigosas em si,
o que acaba por produzir mais ansiedade, que por sua vez alimenta os pensamentos catastróficos, num processo
sem fim. Enquanto a pessoa não interromper este curto-circuito ela
não consegue se livrar das crises de pânico.
Expectativa Constante de Perigo
O estado de ansiedade leva a
automatismos no processo de atenção e pensamento. A atenção passa a se
deslocar descontroladamente, monitorando o corpo em busca de
algo que possa representar perigo.
O enfraquecimento da
capacidade de controle voluntário da atenção está relacionado à
dificuldade de concentração frequentemente
relatada pelas pessoas ansiosas.
Sob
ansiedade a consciência
é tomada por um fluxo de preocupações, pensamentos e ruminações e a
pessoa sente que tem pouco domínio de sua mente.
Surgem interpretações equivocadas das reações
corporais, pensamentos automáticos catastróficos, onde a pessoa passa a
esperar
sempre pelo pior.
A ansiedade é a
emoção típica da expectativa de perigo, ela ocorre quando
a pessoa se projeta numa situação futura sentida como
ameaçadora: "e se... eu
vou... vai acontecer... vou passar mal...".
A pessoa vive a maior parte do tempo tomada por graus variados de
ansiedade e tem dificuldade de se sentir presente e inteira no momento atual, vivendo
como "prisioneira do futuro". Criar presença e fortalecer a atenção são focos importantes no tratamento.
O ser humano
dispõe de dois processos básicos de regulação emocional: auto-regulação e regulação pelo
vínculo.
Através do processo de auto-regulação
emocional podemos
regular o nosso próprio estado interno, nos acalmando, nos contendo, nos motivando etc.
Através do processo de regulação pelos
vínculos, podemos influenciar reciprocamente a fisiologia e os
afetos um do outro e assim
podemos nos acalmar e nos regular nos relacionamentos com pessoas de nossa
confiança.
Os dois processos são normais, necessários e importantes ao longo da
vida.
Nas pessoas que desenvolvem Síndrome do Pânico
encontramos problemas nestes dois processos, tanto uma
precária capacidade de auto-regulação como um enfraquecimento nos processos
de regulação pelos vínculos, muitas vezes decorrentes de traumas de relacionamentos e ansiedades infantis que se reatualizam.
Tomada pela ansiedade nas crises, mas
também num grau menor no período entre as crises, a pessoa com pânico
não sabe como apagar o fogo que arde dentro de si. Daí a importância de
desenvolver bem os processos de auto-regulação e de regulação pelo
vínculo.
A qualidade da relação
com a própria excitação interna começa a se moldar nas experiências
precoces de
vida.
Inicialmente
a mãe ajuda a regular o corpo da criança
até que o corpo um pouco mais maduro possa
se auto-regular. Observa-se que nas pessoas com Síndrome do Pânico esta
função não está bem desenvolvida e a pessoa sente-se
facilmente ansiosa e vulnerável frente as reações que dominam o seu
corpo.
É comum, por
exemplo, as pessoas que desenvolvem algum transtorno de ansiedade terem tido mães ansiosas, emocionalmente hiper-reativas, que
ao invés de acalmarem a criança, a deixavam mais assustadas
a cada pequeno incidente, como um tropeção ou um simples
resfriado.
Experiências de vida desde a
infância precoce
podem atrapalhar
o desenvolvimento da capacidade de auto-regulação, tornando uma pessoa com baixa tolerância à excitação interna. Isto aumenta a vulnerabilidade da pessoa aos transtornos ansiosos como a Síndrome do
Pânico.
Muitas pessoas com Pânico costumam
solicitar a presença constante de alguém para
que se sintam mais seguras. Buscam compensar a sua dificuldade
de auto-regulação através de uma regulação pelo
vínculo.
Quando
duas pessoas estão conversando, elas estão em contato,
mas não necessariamente em conexão.
Contato é uma interação de presença,
que pode ser superficial, enquanto conexão é
uma ligação profunda que ocorre mesmo quando as pessoas
estão distantes. Duas pessoas podem estar em contato,
conversando, mas com baixíssima conexão, como numa
situação social formal. Por outro lado, duas pessoas podem
estar fisicamente distantes, e portanto sem contato, mas se sentirem
conectadas.
Esta
distinção entre contato e conexão é muito importante para compreender o
que ocorre na situação que produz as crises de pânico.
Muitas pessoas relatam não ter crises
de Pânico enquanto estão acompanhadas de alguém confiável.
Porém, isto é verdadeiro enquanto elas se sentem
conectadas com esta pessoa. Quando a outra
pessoa está ao lado - portanto em contato -
mas sem conexão emocional, a crise de Pânico pode se instalar com mais probabilidade.
Algumas pessoas chegam a relatar a sensação de perda a conexão com o
outro antes de uma crise de
pânico eclodir.
A pessoa com pânico geralmente conhece a sensação de "estar ausente", desconectada, se sentindo distante mesmo de quem está ao seu lado.
A conexão com o outro parece prevenir crises de ansiedade por
oferecer uma proteção através do vínculo, uma garantia que protege da
sensação de desamparo e vulnerabilidade. Nesta situação,
o corpo da pessoa confiável funciona como um
"assegurador do funcionamento normal do corpo" da pessoa com pânico. Na
ausência da conexão com o outro,
o corpo poderia se desregular e a sensação de pânico aparecer.
A regulação pelo vínculo ocorre,
por exemplo, quando a mãe acalma a criança assustada, pegando-a no
colo, dirigindo-lhe palavras num tom de voz sereno, ajudando deste modo a
diminuir a ansiedade e a agitação da criança. Este processo envolve o
estabelecimento de um vínculo com uma comunicação profunda de estados
emocionais, com conexão e não apenas contato.
É comum as pessoas que desenvolvem
Pânico terem tido experiências vinculares traumáticas, que podem
envolver perdas, rompimentos, abandono, etc. Estes traumas
prejudicaram a capacidade da pessoa estabelecer e manter conexões
emocionais profundas, fator essencial para a regulação emocional pelo
vínculo.
Assim a pessoa pode algumas vezes se sentir protegida com a presença de
alguém de sua confiança, mas acaba voltando ao estado de vulnerabilidade
tão logo esta pessoa se afaste ou ela perca a conexão. Há uma precariedade na
conexão vincular que se torna inconstante e frágil.
Há uma
relação significativa entre o Pânico e as crises
de ansiedade disparadas pelas situações de separação na
infância. Uma boa parte das pessoas que desenvolvem Transtorno do
Pânico não conseguiu construir uma referência interna
do outro (inicialmente a mãe) que lhe propiciasse segurança e
estabilidade emocional. Esta falta de confiança pode trazer, em
momentos críticos, vivências profundas de desconexão e desamparo,
disparando crises de pânico.
A experiência do Pânico é muito próxima do desespero
atávico de uma criança pequena que se sente sozinha, uma
experiência limite de sofrimento intenso, de sentir-se exposta ao
devir, frágil, desp
rotegida, sob o risco do aniquilamento e da
morte.
As pessoas com Pânico sofrem com uma falta
de conexão básica, falta de conexão e confiança nos vínculos e falta de
conexão e confiança no corpo, o que leva a uma vivência de insegurança,
com sentimentos de fragilidade, vulnerabilidade e
desamparo.
O
TRATAMENTO
Há
algumas
diretrizes importantes para o tratamento da Síndrome
do Pânico:
1 - Etapa Educativa: compreender o
que é o Pânico, assumindo a atitude
certa para lidar com a ansiedade e
as crises.
Os sintomas do
pânico são intoleráveis enquanto não compreendidos. A crise de
pânico é um estado de intensa ansiedade, na qual o corpo da
pessoa reage como se estivesse sob uma forte ameaça. Compreender este
processo é fundamental para a sua superação. Nesta etapa vamos aprender o que
é a ansiedade, o que ocorre numa crise de pânico, o papel do
curto-circuito emoção-corpo-pensamento na manutenção do pânico, os processos de auto-regulação, de
regulação pelo vínculo, etc.
A compreensão do Transtorno
Pânico e dos Princípios do Tratamento favorece uma atitude construtiva e participativa, assim
como o estabelecimento de uma aliança terapêutica para se
desenvolver um bom trabalho.
2 - Auto-gerenciamento: desenvolvendo
a capacidade de regulação emocional.
A pessoa com pânico precisa desenvolver uma melhor
capacidade de regulação emocional,
aprendendo a influenciar seu estado
emocional, regulando o nível de ansiedade, diminuindo assim o sentimento de vulnerabilidade
e a incidência de novas crises.
Este processo é possível pelo
aprendizado de técnicas de
auto-gerenciamento.
Utilizamos um amplo repertório de técnicas de
auto-gerenciamento que incluem trabalhos respiratórios, técnicas
de direcionamento da atenção, fortalecimento da capacidade de
concentração, técnicas visuais variadas (convergência binocular
focal, percepção de campo etc), reorganização da forma somática através
do Método dos Cinco Passos, técnicas de relaxamento etc.
Estas
técnicas de auto-gerenciamento ensinam à pessoa como influir sobre os seus
estados internos, desenvolvendo a capacidade de auto-regulação.
Através do manejo voluntário dos
padrões somático-emocionais que mantém o estado de pânico pré-organizado - a arquitetura da
ansiedade
- podemos reorganizar e transformar estes padrões que
mantém o gatilho do pânico armado, pronto para disparar novas crises.
Estas técnicas têm uma forte eficácia ao
influenciar, por ação reversa, os centros cerebrais que desencadeiam
as respostas de pânico, diminuindo o nível de ansiedade e a
intensidade das crises.
3 - Aumentar a tolerância à excitação interna.
A pessoa com pânico tende a interpretar
as reações de seu corpo, que fazem parte do estado ansioso,
como se fossem sinais catastróficos, indicadores de um possível perigo, como um
desmaio, um ataque cardíaco iminente, sinal de perda de controle, etc.
É necessário enfraquecer esta associação automática onde a presença de
algumas sensações corporais disparam uma reação automática de ansiedade, a
se inicia o processo que leva ao pânico.
Para ajudar no enfraquecimento desta
associação corpo-perigo e aumentar a tolerância ao que é sentido, utilizamos dois caminhos básicos.
(1) Técnicas de desensibilização, onde
utilizamos exercícios de exposição gradual às sensações corporais
temidas, processo denominado "exposição interoceptiva".
(2) Técnicas de
auto-observação, com
atenção dirigida às reações da ansiedade e criação de um diálogo
com as mensagens emocionais não ouvidas que o corpo está expressando.
Estes recursos ajudam a aumentar a tolerância à excitação interna e na familiarização
com as reações
do corpo, as emoções e sentimentos. É importante a pessoa ensinar ao seu cérebro como as
sensações corporais não são
perigosas, e como a ansiedade é apenas uma emoção que expressa uma expectativa
de perigo, mas não é perigosa em si.
4 -
Desenvolver um "eu observador", permitindo diferenciar-se dos pensamentos
ansiosos.
Sob estado de ansiedade a pessoa é
inundada de distorções cognitivas, com pensamentos que se projetam no
futuro esperando pelo pior e interpretando as sensações em seu corpo
como sinais de perigo iminente.
É importante trabalhar no desenvolvimento da
capacidade de auto-observação identificando e diferenciando-se dos
pensamentos catastróficos que derivam da ansiedade e contribuem para se
criar mais ansiedade.
Neste processo a pessoa
aprende a observar e reconhecer seus padrões de pensamentos e suas
expectativas catastróficas sem ser dominada por eles. Aprende a ancorar o
ego no “eu que observa” e não no tumultuoso “eu que
pensa”.
É importante também desenvolver a
capacidade focalizar a atenção como estratégia para se diminuir
a ansiedade. Quando a pessoa consegue criar presença e focar sua
atenção, a ansiedade diminui significativamente. Para atingir estes
objetivos, utilizamos várias técnicas de auto-observação e
fortalecimento da capacidade de direcionamento da atenção.
5 - Desenvolver a
capacidade de regulação emocional através dos
vínculos.
Além da capacidade de auto-regulação é
importante fortalecer
a
capacidade de se regular pelos vínculos,
o que envolve desenvolver a capacidade de estabelecer e sustentar
conexões profundas e vínculos de confiança. Este processo vai permitir que a pessoa
supere o desamparo que a mantém vulnerável às crises de Pânico.
Neste processo revemos a história de vida de
relacionamentos, incluindo os traumas emocionais que possam ter comprometido
a confiança e potência vincular. Buscamos
ajudar na reorganização dos padrões vinculares em direção a relações
mais estáveis que possam permitir criar uma rede de vínculos e conexões mais
previsíveis, essenciais para a proteção das crises de Pânico.
6 - Elaborar outros processos
psicológicos atuantes
É importante mapear os fatores que estavam
presentes quando a Síndrome do Pânico começou e que podem
ter contribuído
para a eclosão das crises.
Neste contexto podem estar
presentes
ambientes
e eventos estressantes, assim como crises existenciais, crises em relacionamentos,
crises profissionais e transições, como mudanças
de fases da vida, por exemplo. A
desestabilização emocional trazida por estes eventos
poderia produzir estados internos de fragilidade e vulnerabilidade, responsáveis pela eclosão
das primeiras crises de pânico.
Num
nível mais profundo buscamos investigar e trabalhar as
memórias de experiências de vulnerabilidade e traumas que
poderiam estar se reeditando nas experiências atuais de pânico.
Do mesmo modo é importante rever os padrões de relacionamento com
mãe/pai
na infância, pois padrões
ansiosos e ambivalentes de vínculo podem ter uma forte influência sobre
o aparecimento e manutenção de transtornos de ansiedade na vida adulta.
Os
melhores resultados são obtidos por um tratamento que contemple
todos estes objetivos: a compreensão do processo do pânico,
o desenvolvimento da capacidade de auto-regulação, o aumento
da tolerância à excitação interna, o desenvolvimento do eu que
observa,
o desenvolvimento da capacidade de regulação pelo vínculo e a
elaboração dos processos de vida que levaram ao Pânico.
Uma combinação
destes objetivos é a melhor solução para um tratamento eficaz da Síndrome
do Pânico.
Os remédios podem ser recursos
auxiliares importantes para o controle das crises de pânico, trabalhando conjuntamente com a psicoterapia
para ajudar na superação da Síndrome do Pânico.
Porém, há
algumas ponderações sobre a
sua utilização . Primeiro, é necessário ter claro
que os remédios não ensinam. Eles não ensinam à pessoa como
ela própria pode influenciar seus estados internos
e assim a superar o sentimento de impotência
que o pânico traz. Não ensinam a pessoa a compreender
os sentimentos e experiências que desencadeiam as crises de pânico. E não
ajudam a pessoa a perder o medo das reações de seu
corpo e
a ganhar uma compreensão mais profunda de seus sentimentos.
Os remédios - quando utilizados - devem ser vistos como auxiliares do tratamento
psicológico.
Algumas pessoas optam por um tratamento
conjugado de medicação e psicoterapia enquanto outras optam por tratar o
pânico somente com
uma psicoterapia especializada. Na psicoterapia especializada utilizamos técnicas de auto-gerenciamento
– para manejar os níveis de ansiedade e controlar as
crises – e ao mesmo tempo trabalhamos as questões psicológicas envolvidas.
A opção mais precária seria tratar o pânico somente com medicação, visto
que o índice de recaídas é maior quando há somente
tratamento medicamentoso do que quando há também um tratamento psicológico. Os remédios
mal administrados podem acabar mascarando por anos o sofrimento ao invés
de ajudar a pessoa a superá-lo.
Atualmente é possível tratar a pessoa com Síndrome de
Pânico sem a utilização de medicação e temos obtido bons resultados tanto
com pessoas que estão paralelamente tomando medicação como com
aquelas que preferem não tomar remédios.
A melhora advém quando a pessoa torna-se capaz de sentir-se identificada com seu corpo, capaz de influenciar seus estados internos, sentindo-se conectada com os outros à sua volta, podendo lidar com os sentimentos internos, se reconectando com os fatores internos que a precipitaram no Pânico e podendo lidar com eles de um modo mais satisfatório.
Superar a experiência da Transtorno de Pânico pode ser uma grande oportunidade de crescimento pessoal, de uma retomada vital e contemporânea do processo psicológico de vida de cada um.
Artur Scarpato
: Psicólogo Clínico (PUC SP). Mestre em Psicologia Clínica pela
PUC SP. Especialização
em
Psicologia Hospitalar pelo Hospital das Clínicas da
U.S.P. e em Cinesiologia Psicológica pelo Instituto
Sedes Sapientiae. Desenvolve desde 1995 um tratamento especializado para pessoas com Transtorno do
Pânico.
Artur
Scarpato - Psicologia Clínica
CRP 06/42113-7
Rua Artur de Azevedo, 1767 Pinheiros
São Paulo SP
Paralela a Av. Rebouças e à R. dos Pinheiros
Fone
(0xx11) 3067 5967